Antonio Jorge Nunes

Artigo de opinião 

A engenharia faz parte da História da Humanidade, do seu progresso enquanto sociedade que progressivamente deixou a vida nómada para desenvolver a agricultura e as cidades, a economia. Persistem desde a Antiguidade, obras monumentais, seculares e milenares, que nos interrogam sobre a capacidade e métodos, projetadas pela engenharia militar e civil, testemunho do conhecimento, da arte, da capacidade de realização humana. Bem perto de nós, destaco a ponte romana de Alcântara, com mais de dois mil anos, sobre o rio Tejo que tem inscrito “a ponte durará para todos os séculos do mundo”.
Portugal foi no século XV e XVI, um exemplo de capacidade de inovação, de desenvolvimento da arte e aplicação do conhecimento, o que lhe deu vantagem na indústria naval, no armamento e na cartografia, permitindo-lhe dar os primeiros passos da globalização, dominar as rotas marítimas do comércio entre a Europa e o Oriente, construir o V império que perdeu há cerca de meio século.
Grandes inovadores e grandes cientistas têm, através da engenharia apoiado grandes saltos da humanidade, desde a Antiguidade até ao presente. Na época moderna as realizações da engenharia são notáveis, a todos os títulos, apoiando a construção das cidades, das infraestruturas de comunicação, dos sistemas de apoio à produção agricultura e industrial, à conquista espacial e aproximação a outros planetas, até ao grande desenvolvimento da biotecnologia, da nanotecnologia e da inteligência artificial.
Os desafios da Engenharia do futuro vão, desde a manutenção e reabilitação das construções existentes para garantir a sua segurança e funcionamento para a próximas gerações; à criação de condições sociais e económicas para acolher o crescimento exponencial da população a nível planetário; à transformação do modo de vida e das atividades económicas para uma economia verde e do conhecimento, no sentido de reverter os danos imprevisíveis das alterações climáticas. Estamos perante desafios enormes à engenharia nas suas valências atuais e nas que vão emergir.
Desde a crise financeira de 2009, que o investimento em Portugal caiu para mínimos de décadas, e passou a estar mais dependente das ajudas da União Europeia. A atual crise pandémica trouxe consigo a crise social e económica, obrigou os países a grande reforço do investimento na saúde e nos apoios sociais, obrigou a rever as estratégias de crescimento e emprego. A Europa está a reforçar o investimento público, a apoiar o investimento privado, a promover reformas para tornar as instituições e os países mais resilientes a situações de crise. A Europa tem no Pacto Ecológico Europeu uma das suas principais apostas, tem no Plano de Recuperação e Resiliência um instrumento financeiro poderoso. O tempo é de mudança de paradigma, para uma economia verde, de conhecimento e inovação, para a qual todas as competências da engenharia do presente e do futuro são essenciais.
A engenharia portuguesa estará na primeira linha dos desafios do país, como sempre esteve ao longo de séculos, empenhada em garantir a boa conceção, durabilidade e sustentabilidade dos projetos, contribuir para a progressiva descarbonização da economia, seja: na ferrovia, na mobilidade elétrica e autónoma, no aproveitamento dos recursos marítimos; no melhor ordenamento florestal e agrícola, nos centros de investigação e desenvolvimento, em geral, no que tem a ver com o bem estar presente e futuro dos cidadãos.
Nos últimos 10 anos o investimento em Trás-os-Montes e Alto Douro quase parou, seguiu o ritmo do país. Na próxima década, tudo aponta para a concentração de investimento no litoral, a situação deveria evoluir, alargando a coesão territorial e a competitividade a todo o território nacional.
Nesta década, em Trás-os-Montes e Alto Douro deveriam ser executados os seguintes investimentos: na rede aeroportuária regional, em Bragança e Vila Real; finalização de ligações fronteiriças como o IP2 e o IC5; construção do IC26 para desencravar os concelhos da margem esquerda do Douro; construção de uma rede de pequenas barragens e regadios, para dar sustentabilidade e produtividade à agricultura e florestas e para enfrentar as alterações climáticas; valorização e ampliação da corredor ferroviário e fluvial do Douro até Barca de Alva; construção de ligação ferroviária ligando a linha da Beira Alta em Vila Franca das Naves à linha de Alta Velocidade na Puebla de Sanábria, entroncando na linha do Douro, na estação do Pocinho.
Enfrentar o abalo demográfico que atinge esta região, que a levou em meio século a perder metade da população, exige muito, sobretudo políticas nacionais avançadas, de investimento público, de apoio ao investimento privado, e de fixação a famílias em situação ativa, através de políticas fiscais muito atrativas, melhoria dos cuidados de saúde, melhor acessibilidade e proximidade de serviços de interesse geral. O país é um só, deu novos mundos ao mundo, não pode demitir-se da redução das desigualdades territoriais e sociais que tolhem o seu crescimento.