Há Engenharia nos vinhos do nosso Verão

Por Vítor Correia, eng. Agrónomo, sénior

O Vinho é um produto resultante de intensa actividade de Engenharia, desde a implantação da vinha no terreno até que chega à nossa mesa. Envolve múltiplas especialidades de Engenharia e outras atividades profissionais. Mas hoje faremos apenas tensão de referir as atividades que têm que ver com o melhor uso a dar ao vinho como uma prazerosa actividade de verão.
Quando começam a subir as temperaturas muitos pensam que é hora de o vinho ceder lugar a outras bebidas tidas como mais frescas ou dessedentantes. Nada mais errado. A diversidade de castas e de tipos de vinho, permitem-nos nestes dias de calor fazer uma escolha acertada para diferentes momentos do dia, bem como acompanhar diferentes tipos de refeições ou de petiscos.
Actualmente, não bebemos apenas um tipo de vinho ao longo do dia ou refeição. É bom relembrar que a questão das misturas apenas se coloca entre bebidas com diferentes teores alcoólicos ou aditivos, nomeadamente a quantidade de açúcar. Normalmente, ao final da tarde começamos com um aperitivo para estarmos a conviver com os amigos ou até, calmamente com a família após um belo dia de praia, de passeio pelo campo ou de visita a uma das nossas cidades e os seus centros históricos. Sentados numa esplanada ou na varanda lá de casa, um espumante, um branco ou rosado acompanhados por uns “tira-gosto” são uma fantástica companhia. Vão ver que a conversa flui e que a noite se aproxima com outro deleite.
A sequência em que se serve o vinho é também muito importante. É difícil apreciar um bom vinho seco, se antes tiver bebido um vinho doce, pelo que a ordem usual de serviço é o seco antes do doce, o branco antes do rosado e este antes do tinto, o novo antes do velho (ainda que em alguns casos, possa ser interessante inverter esta ordem). O ideal é seguir uma progressão que vá do bom ao excelente, do leve ao encorpado, do simples ao complexo.
Mas para tudo correr pelo melhor, há duas questões que são essenciais: o copo onde vamos beber e a temperatura de serviço do vinho. O mesmo vinho servido em copos diferentes transmite-nos uma sensação diferente de sabor e aroma. O copo deve ser cristalino, de preferência de rebordo fino, pé alto (para não aquecermos o vinho com a mão), de modo a permitir melhor percepção da cor e da limpidez do vinho. É também importante que tenha uma boa abertura de modo a permitir que o vinho contacte livremente com o ar. Os copos do tipo Bordeaux ou Bordalês são elegantes e adequados para os vinhos brancos, rosés e tintos jovens. O flûte, alto, estreito e elegante é ideal para os espumantes.
Os copos não devem ser cheios. Meio copo é suficiente, para permitir agitar o vinho, com um movimento giratório, e apreciar os seus aromas.

Mas comecemos pelos espumantes. A sua versatilidade e frescura tem permitido que a cada ano sejam mais os amantes deste tipo de vinho. Pode ser bebido de dia ou de noite; como aperitivo ou acompanhando um prato; até como final de festa acompanhando uma sobremesa. Contudo, bem gelado, entre os 6 a 8 °C na varanda, na esplanada ou até na praia durante o entardecer, é simplesmente perfeito. Importante mesmo é a companhia, a temperatura e o flûte!
Também podemos começar por um branco ou um rosado. O que torna estes vinhos ideias para épocas de calor é que são muito refrescantes e resgatam as notas de frutas das suas castas dominantes. Devem ser bebidos frios, e apesar de que cada variedade possua uma temperatura ideal: os vinhos brancos devem ser servidos entre os 8 a 12 °C; os rosados entre os 10 a 12 °C. Os rosados começam a ser mais valorizados porque deixaram de ser apresentados apenas em versões adocicadas e agora surgem mais secos e com melhores propriedades dessedentantes. Os rosados são vinificados através do mesmo processo de elaboração de um vinho branco e o resultado é um vinho fresco mais próximo aos tintos e com notas frutadas, sem apresentar as características taninosas de um tinto clássico. São muito interessantes para acompanhar umas entradas como umas iguarias gordas, uns pratos leves ou exóticos. A descobrir os rosados da Região dos Vinhos Verdes, nomeadamente os com base na casta Vinhão.
Os brancos casam bem obviamente com os peixes e iguarias marinhas das nossas costas, mas são também óptimos aperitivos. Das excelentes notas dos nossos Alvarinhos e Loureiros da Região dos Vinhos Verdes, aos Encruzados do Dão, passando pelos João Pires da Região de Setúbal, ou os Douro mais interiores, dispomos de excelentes brancos. Uns mais aperitivos, outros mais aromáticos, outros mais destinados a acompanhar a refeição. O gosto e a experiência de cada um vai, ditar a escolha. Não se esqueça que os brancos também acompanham bem carnes brancas.
Os tintos são vinhos que não são bebidos muito frios, antes entre os 12 a 15 °C e cada casta ou tipo de vinho tem uma temperatura ideal. Os vinhos velhos para além dos cuidados especiais que merecem para ser servidos, necessitam temperaturas mais elevadas. Não estamos aqui a referir-nos a eles, porque queremos apenas referir uma excelente alternativa para os dias de calor: optar por vinhos tintos jovens, mais frescos e frutados. Os mais leves também podem ser um excelente aperitivo, para acompanhar umas entradas mais gordas e de sabores mais marcados, nomeadamente de porco, de caça ou dos nossos queijos de ovelha. Mas também são uma excelente base para criar um cocktail da sua preferência. Experiente em sua casa fazer um “Recontro”, ou seja um cocktail feito quase como de uma caipirinha se tratasse (Use lima, açúcar amarelo não cristalizado, hortelã e gelo picado. Pode usar mel a gosto. De preferência bata o açúcar, a hortelã, o mel e o vinho no “shaker” antes de o juntar ao gelo picado e está pronto!) mas à base junte o tinto verde da Casta Vinhão. Vai ficar seduzido pelo aroma aveludado a frutos do bosque, ligeiro toque a canela e alto valor refrescante. É um fantástico aperitivo para o final da tarde.

Por último, teremos que referir a garrafa. Esta deve estar bem armazenada, fora da incidência da luz solar, deitada (para a rolha estar húmida e intumescida) em local fresco e de temperatura estável. Se a temperatura ambiente estiver alta, a sensação de frescura que temos inicialmente é inferior, logo teremos que baixar a temperatua 1 a 2 graus relativamente ao recomendado. Se a garrafa estiver a uma temperatura de 20 °C, serão necessárias cerca de 2 a 3 horas no frigorífico para que o vinho fique à temperatura adequada. Em alternativa, se o vinho for colocado dentro de um balde com gelo e água, serão necessários cerca de 20 a 30 minutos. Mas tão importante como servir o vinho à temperatura adequada é mantê-lo a essa mesma temperatura, recorrendo por exemplo a um balde com gelo e água ou “frapé”. Logo que se começa a servir, a quantidade de vinho na garrafa diminui, logo a temperatura do mesmo baixa consideravelmente, pelo que os recipientes para arrefecer e manter a temperatura deverão ser diferentes.
O processo de abertura da garrafa inicia-se com o corte da cápsula, que deve ser feito abaixo do anel externo da boca da mesma, limpando-se de imediato a parte superior da rolha pois podem existir impurezas. Convém não ultrapassar a rolha com a espiral do saca-rolhas, a fim de evitar que caiam no vinho partículas de rolha ou depósitos que se lhe tenham fixado. Depois de retirar a rolha, limpa-se o interior do gargalo com um guardanapo.
No caso de um espumante, depois de retirada a cápsula, será aberto e retirado o açaime. Retira-se a rolha segurando-a com firmeza e girando a garrafa – nunca a rolha – pois poderia partir-se ao torcê-la. O acto de agitar a garrafa de espumante e retirar a rolha provocando um repuxo e estalido, implica a perda da espuma com a consequente perda de gás, a sua mais distintiva característica.
Há Engenharia que torna o teu vinho mais delicioso…
Boas Férias.
 

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