Carlos Magno no Há Engenharia Fora da Caixa da OERN

Carlos Magno trouxe até ao “Há Engenharia fora da caixa” uma reflexão sobre as notícias e a forma como as vemos e gerimos no nosso quotidiano. “Quando se trata de fake news, eu gosto de discutir o tema com engenheiros e com filósofos, porque acho que as fake news são um assunto demasiado sério, para ser entregue, exclusivamente, aos jornalistas.” E o mote estava dado para uma conversa que passou por Trump, Cristina Ferreira, Bolsonaro, Pinto Balsemão e muitos exemplos. 

 
Joaquim Poças Martins, presidente da OERN lembrou que “Somos confrontados com imensas notícias, dos mais diversos meios de comunicação, que são contraditórias umas com as outras. Acho que não pode ser mais oportuna esta conversa, vinda de quem, de facto, sabe, de quem está na comunicação social há muitos anos, e quem, neste momento, está a estudar e a ensinar esta matéria.” Joaquim Borges Gouveia, moderador do debate lembrou que “se tudo se está a alterar, provavelmente na comunicação, também algo se vai passar.”
 

 

O que Carlos Magno disse…

 

Sobre as Fake News e os jornalistas

 
Vivemos numa sociedade, onde os jornalistas se proletarizaram e as fontes se profissionalizaram. Deixou de ser necessário, para notícias rápidas, daquelas que correm célere pelo mundo todo, haver alguém que transforme um facto em notícia ou que transforme a realidade em atualidade. A tecnologia que os engenheiros nos ofereceram e nos continuam a oferecer, fez a ligação direta entre o facto e o seu espectador. Nós hoje temos câmaras em direto de todo o mundo, e podemos ver qualquer acontecimento que se passa na rua ou mesmo em casa, a partir de equipamento instalado que a engenharia nos forneceu. Mas isso provoca, de uma maneira geral, informações completamente falsas, distorcidas, primeiro porque as imagens não têm cheiro, segundo porque o ângulo impõe um ponto de vista, terceiro porque nunca uma imagem vale mais que mil palavras. As palavras são fundamentais para enquadrar aquilo que nós estamos a ver. No jornalismo, ao contrário do que se pensava, não se dispensa o fator humano. Já há televisões que têm robots a dar notícias e é evidente que é possível fazer notícias automaticamente através de uma grelha de perguntas e respostas, que preenchem uma série de questões e que se transformam em notícias.
 

“A tecnologia que os engenheiros nos ofereceram

fez a ligação direta entre o facto e o seu espectador.”

 

O jornalismo nasceu para combater os boatos. Nós costumamos dizer que não há fake news. A ideia de fake news é um paradoxo impossível de sustentar, porque se é falsa, não é notícia. Se hoje, nas sociedades contemporâneas, dispensamos os jornalistas e permitimos que todas as fontes dêem as suas notícias da maneira que mais lhes agrada, nós perdemos a perspetiva independente e transformamos as notícias em propaganda. E esse é o problema de hoje. As fake news surgiram nesta lógica. O grande problema é que hoje, pela escassez de meios, o jornalista passou a ser um enviado especial à internet, em vez de ser um enviado especial à realidade. O jornalismo desumanizou-se, passou a divulgar aquilo que já toda a gente sabe e passou, sobretudo, a ter opinião.
 
 

“A Cristina Ferreira faz entrevistas

e os políticos  em vez de serem entrevistados por jornalistas,

preferem ir lá fazer os seus cozinhados”

 
O grande problema é que o jornalismo se transformou numa amalgama, e a Cristina Ferreira faz entrevistas e os políticos em vez de serem entrevistados por jornalistas, preferem ir lá fazer os seus cozinhados e as televisões transformaram-se num caldeirão, onde o jornalismo, que custa dinheiro, se transforma numa espécie de apêndice. Por isso é que a mim me custa que hoje o Estado português tenha distribuído antecipadamente financiamentos para os grupos de média, que era como dizia o doutor Rui Rio, para alimentar os programas da Cristina e do Big Brother. Quem fala de fake news, geralmente produz fake news, e um exemplo disso é o Trump, que ressuscitou o conceito de fake news, e é o que mais produz. O Bolsonaro, idem aspas, e o Brasil é um verdadeiro laboratório de fake news. O Lula fazia fake news. Nos Estados Unidos, por muito que isto custe, o senhor Obama fazia fake news.
 

“Desconfiem quando ouvirem alguém dizer que fulano tal ou que os seus rivais fazem fake news. Todos os governos as fazem, todos os partidos as fazem, todas as instituições as fazem. “

 

Nós vivemos numa combustão de culturas e tudo aquilo que se passa à nossa volta faz parte de um conjunto de informações que circulam a alta velocidade e a grande temperatura, das quais nós filtramos apenas uma parte. E qual é o problema? Nós temos tendência a acreditar mais naquilo com o qual estamos de acordo, com aquilo que nos dá jeito.
Não há guerra, não há revolução, não há campanha eleitoral que não tenha fake news, que não tenha informação não confirmada, informação que interessa a uma das partes.
 

Sobre o combate às fake news

O jornalismo nasceu para combater as fake news, isto é, face aos rumores, aos boatos, à informação falsa que circulava por todo o lado, alguém disse: “e se eu der informação profissional? Aquela informação que responde às perguntas quem, o quê, quando, como, onde e porquê?”. Eu estou a ter público leitor em todo o lado. E isto foi acontecendo, até que os gatekeepers, ou seja, os guardadores do espaço editorial desapareceram e hoje qualquer pessoa se permite estar na rede, no digital e fazer informação que, de uma maneira geral, não é confirmada, não é verificada, não é formatada, e inclusivamente, permite todos os equívocos e todas as opiniões divergentes.
 

“Da mesma maneira que os engenheiros não querem que apareçam pessoas que não são engenheiros a fazer obras (…) nós também temos que exigir que o jornalismo seja uma profissão reconhecida, credibilizada e ao mesmo tempo que seja, prestigiada”

 
O grande problema é que na sociedade em que nós vivemos, o jornalista se tornou descartável, dispensável, porque nós achamos que temos a informação toda e a informação que nos chega, muitas vezes é distorcida, outra vezes incompleta e outras vezes errada. Do meu ponto de vista, as notícias falsas vieram salvar o jornalismo, porque toda a notícia falsa dá uma boa notícia verdadeira. E se o jornalismo entrar a seguir a explicar as notícias falsas que estão a acontecer no mundo em cada momento, antes da covid e depois da covid, porque as “notícias falsas”, são de sempre, o jornalismo credibiliza-se e mais, e todas as histórias de falsas notícias, são uma boa história.
 

Sobre o papel dos engenheiros no combate às notícias falsas

 O Dr. Pinto Balsemão dizia-me, com grande regularidade, que da mesma maneira que ele converteu economistas em jornalistas, ele hoje tinha a preocupação de transformar os engenheiros em jornalistas.
 

“Passamos do analógico, ao digital, do papel à rede,

e aquilo que se vê na rede, são fluxos de informação,

e é muito importante ter a expertise dos engenheiros, neste trabalho”

 
Porque nós passamos do analógico, ao digital, do papel à rede, e aquilo que se vê na rede, são fluxos de informação, e é muito importante ter o apoio e a expertise dos engenheiros, neste trabalho de saber de onde é que vêm os fluxos, para onde é que eles se dirigem, onde é que estão os nós, quem é que fala com quem. E por isso, eu acho que esta tarefa é cada vez mais para engenheiros, articulada com jornalistas e depois também com sociólogos, filósofos e com historiadores.
 

Eu acho que os engenheiros e a Engenharia são obrigatórios,

nos tempos que correm, mais do que qualquer outra profissão e atividade.”

 
O jornalismo precisa de ter experiência. O jornalismo é a disciplina da verificação, os engenheiros não fazem uma estrutura sem fazer as contas, o jornalista não pode fazer uma notícia sem verificar se os dados são verdadeiros. Por isso é que eu acho que os engenheiros e a Engenharia são obrigatórios nos tempos que correm, mais do que qualquer outra profissão e atividade.
Graças à Engenharia, estamos a viver a uma velocidade estonteante, temos de ter tempo para pensar e para mediatizar e intermediar a informação que nos acontece. Há muito espetáculo e pouca informação. Nós hoje temos um jornalismo rasteiro, muito pouco culto, e ao mesmo tempo muito espetacular e muito capaz de influenciar multidões. Todos nós podemos estar a ser vítimas de fake news em qualquer momento e não nos darmos conta disso.
 

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Edição e texto: Catarina Soutinho | Transcrição: Inês Miranda | Design Gráfico: Melissa Costa

 

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