“Cidades adormecidas, mas o futuro aceita Engenharia”

Artigo de opinião por Bento Aires, coordenador do Colégio de Engenharia Civil – Norte

 

Logo que sofremos o primeiro embate deste novo tempo que estamos a viver globalmente, partilhei a minha preocupação com o impacto que a pandemia teria no setor da construção, reclamando medidas específicas.
Agora, depois da fase inicial e de aceitarmos que a pandemia existe, somos chamados a reagir e a retomar a atividade dentro de uma “nova normalidade”.
Todos temos registado na memória, ainda muito recente, cidades adormecidas e infraestruturas praticamente paradas, onde, ainda assim, a Engenharia continuou a garantir o controlo e a continuidade da operacionalidade. Os engenheiros não pararam, mesmo que as salas de reunião se tenham passado a chamar Zoom, Skype, WhatsApp, Duo, Webex, Google meeting.
À Engenharia cabe fazer o País crescer, desenvolver, criar e evoluir, foi assim durante a pandemia e será agora na recuperação.
 

O mundo terá desafios complexos na fase que estamos todos ansiosos de viver. O primeiro desafio é, sem dúvida, saber quais os setores estratégicos a apoiar. Não tenho dúvidas de que a ciência é crucial, até pela necessidade de desenvolvimento de soluções para a pandemia, mas é óbvio que o desafio da reativação económica será bem mais complexo de estruturar.

 

A reativação económica terá limitações, nomeio duas principais.
A primeira é que será “entreportas”, baseada nos recursos das nações, porque não teremos, como na crise anterior, a oportunidade de internacionalização para novos mercados, uma vez que todos padecem do mesmo. A segunda limitação será a velocidade da reativação, o tempo que levará a recuperação a chegar a todas as classes sociais. Aqui, os setores que mais rapidamente farão chegar recursos às famílias – e às que saíram mais frágeis destes meses de árduo esforço – serão determinantes. Falo de setores como a construção, indústria, conservação e manutenção dos ativos (edifícios, infraestruturas e equipamentos).
Sabemos que as políticas e o investimento público deverão ser a alavanca nos próximos meses, mas devem ser criteriosos, seletivos, protecionistas dos recursos e da capacidade interna de produção sempre orientada ao cidadão.
Porém alerto que esse investimento não será suficiente a longo prazo. O futuro terá necessidades tecnológicas muito maiores, baseadas em soluções de conectividade entre processos e sistemas.
Desta crise resultam um conjunto de oportunidades para digitalização da sociedade que de outra forma o mercado não estaria recetivo a implementar. Atrevo-me a indicar algumas: gestão da mobilidade, gestão de footfall nas ruas, no comércio, nas estações de transporte público e locais de trabalho, partilha de informação, desmaterialização de processos produtivos, alteração da tipologia das habitações, aumento da eficiência da gestão das infraestruturas.
 

Estas são oportunidades de Engenharia, que envolvem vários colégios, nenhum deles talvez autossuficiente na resolução dos desafios, mas que de forma integrada podem responder às oportunidades atuais conjugando as engenharias hard e soft numa abordagem holística.

 
Todos, hoje, estamos mais esperançosos nos tempos futuros que vamos viver, certos de que o presente vivido gerou novas oportunidades, mas também ameaças para todos os Engenheiros. Tudo isto vai exigir capacidade de reorientação da nossa força de trabalho, tal como já fizemos algumas vezes em resposta a adversidades.
O futuro aceita Engenharia porque a Engenharia compreende as necessidades das pessoas e devolve-lhas em realidade.

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