Entrevistas temáticas: Tratamento e abastecimento de água durante a pandemia

Conheça as respostas dos três convidados das Entrevistas Temáticas organizadas pela Delegação Distrital de Vila Real.

 
De que forma os municípios e as empresas concessionárias de tratamento e abastecimento de água da região estão a reagir à pandemia Covid-19. Esta é a premissa basilar para o ciclo especial de entrevistas temáticas que a Delegação Distrital de Vila Real em parceria com o seu dinamizador temático na área de Engenharia Sanitária, Hugo Afonso, está a promover e que serão partilhadas periodicamente pela Ordem dos Engenheiros – Região Norte (OERN).
De que forma o sector da água tem procurado dar resposta ao atual cenário pandémico, em cumprimento da sua Missão? Tem conseguido conciliar com as novas orientações legais que regulamentam os diversos estados de emergência e no imperativo de combater a propagação do surto da doença COVID-19 junto das populações?
Manuel Moras, administrador da empresa Águas do Norte, Carlos Silva, Presidente do Conselho de Administração da Águas do Interior Norte e Delmar Fernandes, da Câmara Municipal de Chaves, respondem a estas e outras questões.
 
Como tem sido gerir os sistemas de abastecimento de água e de águas residuais, com a redução da presença física de muitos colaboradores, quer em isolamento quer à distância, em teletrabalho, garantindo a qualidade e regularidade do serviço?
Manuel Moras – A situação imposta pela Covid-19 trouxe às organizações e em especial às empresas do sector da água novos desafios e novas formas de garantir a continuidade e regularidade do serviço.
Obviamente que não pode estar em causa a interrupção de um serviço publico essencial e imprescindível à vida pelo que os serviços tiveram que se reorganizar adotando novas formas de trabalho, recorrendo a novas tecnologias ou acelerando a digitalização que estando em curso teve que ser rapidamente implementada.
À exceção dos serviços que não é possível executar remotamente, todos os restantes passaram a ser executados por recurso ao teletrabalho. Não foi muito difícil porque a Empresa já estava dotada de uma boa infraestrutura tecnológica que lhe permitiu passar ao teletrabalho sem grande esforço. De facto já há muito tempo que os técnicos da Empresa estão munidos de computadores portáteis, temos uma boa rede de comunicações e todas as instalações estão ligadas em rede permitindo o acesso remoto. Para isso tem sido fundamental a dedicação e empenho dos técnicos de informática, das tecnologias de comunicação e a estratégia que esta Empresa inserida no grupo Águas de Portugal tem, há muito tempo, vindo a optar pela informatização e telegestão das suas instalações.
Obviamente que há trabalho que não pode ser executado de forma remota, como a operação e manutenção das instalações que requerem trabalho manual nas diversas instalações e equipamentos. Também neste campo tivemos que nos adaptar e manter equipas “em espelho” de modo a que se alguma viessem a testar positivo ao vírus, pudessem confinar e ser substituídas pelos colegas que se mantinham em isolamento. Têm sido tempos difíceis que têm obrigado a algumas alterações ao modo de trabalhar, tem provocado alguns constrangimentos principalmente na exploração, mas que de forma alguma puseram em causa a qualidade e regularidade do serviço que com grande dedicação e empenho dos nossos colaboradores a Empresa tem prestado.
Carlos Silva – A AdIN iniciou funções a 01.01.2020, com uma estrutura nova, novos procedimentos e um enorme desafio de dotar os serviços de abastecimento de água e saneamento de águas residuais de eficiência e da sustentabilidade necessária à sua continuidade a longo prazo. O surgimento dos constrangimentos resultantes da Covid-19, num contexto de implementação e instalação de equipas foi particularmente penoso. Estes serviços exigem a presença constante de equipas operacionais no terreno, pelo que as limitações à sua utilização obrigaram a um ajuste na estratégia definida e uma nova priorização em benefício da continuidade da prestação do serviço e da qualidade da água fornecida.
Em face desta situação, os objetivos mais relacionados com a eficiência da prestação de serviço, com a implementação do plano de investimentos sofreram algum atraso que procuraremos mitigar a curto prazo. Um dos investimentos previstos para o setor do abastecimento está precisamente relacionado com a monitorização em tempo real dos caudais à saída dos reservatórios, sem a necessidade de deslocação ao local, situação que nos possibilitará um melhor controlo dos sistemas e uma maior resiliência em situações similares.
Delmar Fernandes – Há muito que a Divisão apostou nas novas tecnologias de informação tendo um sistema de comunicação através dum CRM, digitalização documental, partilha documental e Ordens de Serviço em mobilidade e em linha desde os técnicos até ao trabalhador (pc/tablets) e Visualizadores e dashboars informativos em tecnologia SIG e computadores em tecnologia VDI.
Assim as medidas adotadas anteriormente permitiram minimizar os efeitos da redução da presença física dos colaboradores definindo tarefas específicas complementares com os que estão presenciais para quem está em teletrabalho. Foi implementado o atendimento presencial por marcação e atendimento específico por telefone que é dirigido para o funcionário específico independente do local onde se encontram. Nesta fase houve o incentivo para que os serviços fossem solicitados através do Balcão Digital ou e-mail. Também se promoveu que os pagamentos se fizessem através de transferência bancária ou através do SIBS. Para as faturas em atraso implementou-se a possibilidade de solicitar novos códigos.
 
Como se conseguem operacionalizar as atividades maioritariamente de terreno/campo? Por exemplo, a reparação de avarias no serviço?
Manuel Moras – Como já disse tivemos que nos adaptar à situação de pandemia que nos envolve e reforçamos com medidas adequadas à situação, fornecendo equipamentos e materiais a todos os nossos colaboradores de modo a evitar que viessem a ser infetados.
Demos formação a todos os colaboradores, distribuímos máscaras e materiais de desinfeção e organizamos o trabalho de modo a, sempre que possível, manter o distanciamento. Exigimos as mesmas medidas aos nossos fornecedores e prestadores de serviço pois são também imprescindíveis para garantir o tratamento e fornecimento de água potável e a recolha e tratamento das águas residuais.
Carlos Silva – A AdIN manteve-se sempre operacional, apesar dos constrangimentos decorrentes da impossibilidade de utilizar em simultâneo a totalidade dos seus operacionais. Assim, foi necessário estabelecer prioridades e acorrer às situações mais prementes, salvaguardando sempre a garantia da continuidade da prestação do serviço aos nossos utilizadores.
Delmar Fernandes – Pontualmente existiram dificuldades operativas resolvidas com uma redefinição das equipas  e quando necessário deslocando apoio de outro setor. Como atrás foi dito a utilização da comunicação e execução no local das ordens de serviço através de tablets permite informação em linha o que facilitou em muito a resolução das dificuldades surgidas.
 
Qual tem sido a evolução dos consumos, roturas e perdas de água na fase de confinamento?
Manuel Moras – Relativamente aos consumos não se tem registado grande alteração uma vez que o ligeiro aumento de consumo doméstico devido ao teletrabalho é compensado com a redução do mesmo na atividade comercial e industrial.
Também não registamos grande alteração a perdas pois elas decorrem de roturas, consumos indevidos ou não faturados. Como temos conseguido garantir a reparação das roturas sem perda de eficácia temos conseguido manter o nível de perdas.
Carlos Silva – O atraso na implementação dos investimentos e a limitação da utilização das equipas operacionais condicionaram o combate às perdas de água, principal fator da ineficiência dos sistemas de abastecimento. Assim, em especial durante o período de confinamento registou-se um acréscimo do número de roturas e um maior hiato de tempo entre a sua ocorrência e a respetiva reparação. A redução da atividade comercial/industrial consubstanciou-se numa redução dos consumos por parte destes utilizadores, compensada em parte pelos consumos domésticos.
Delmar Fernandes – Os consumos de 2020 diminuíram tendo as perdas ficado em valores percentuais semelhantes aos de 2019 fora das expectativas muito derivado ao aumento do tempo médio de demora na intervenção. O número de roturas diminuíram derivado aos investimentos que se estão a fazer nesta área.
 
Há investimentos em infraestruturas, equipamentos ou I&D que ficaram suspensos?
Manuel Moras – Não. Uma das nossas preocupações tem sido a de não acrescentar à crise sanitária uma crise económica e de trabalho sem precedentes na nossa história recente. Nesse sentido temos conseguido cumprir o plano de investimentos graças não apenas ao trabalho da nossa Engenharia, mas também ao esforço do sector da construção civil que mesmo nas épocas de maior confinamento não parou.
Carlos Silva – Os sistemas de abastecimento de água e águas residuais geridos pela AdIN estão carentes de investimento e de modernização. A priorização da atividade da empresa para as questões da garantia da prestação de serviço, bem como as restrições impostas ao normal desenvolvimento da atividade económica condicionaram a implementação do plano de investimentos.
Delmar Fernandes – Não. Considerando este setor como prioritário houve um esforço para que a modernização das infraestruturas, equipamentos e I&D se mantivessem.
 
Como assegurar a sustentabilidade das Entidades Gestoras em tempo de crise económica motivada pela crise pandémica? 
Manuel Moras – Tal como os restantes sectores, também as entidades gestoras dos serviços de água (potável e residual) têm que se adaptar às diversas situações e garantir a sua sustentabilidade sem pôr em causa a saúde pública e o ambiente que têm obrigação de preservar.
Estas entidades estão ainda obrigas a fornecer estes serviços a preços acessíveis e socialmente aceitáveis sob pena de não cumprirem a missão para que foram criadas.
Para isso têm que inovar constantemente adotando as melhores práticas. Não é por acaso que nestes tempos de confinamento uma das atividades que mais se tem desenvolvido tem sido a de I&D, reflexo que a Águas do Norte S.A. e o sector se tem vindo a adaptar aos diversos cenários da crise que os tem assolado.
Carlos Silva – Existe um compromisso muito forte dos acionistas e do Conselho de Administração em assegurar a prestação do serviço com um custo mínimo para o utilizador final. Nesse sentido, a sustentabilidade económica vira sobretudo da capacidade da empresa para reduzir gastos. Trata-se de uma tarefa de elevada complexidade e dificuldade, à qual a pandemia veio acrescentar os constrangimentos já referidos. Contudo, embora cientes das dificuldades, estamos convictos e determinados em assegurar a sustentabilidade da empresa, garantir a continuidade e qualidade do serviço prestado em prol dos utilizadores dos nossos serviços.
 

Partilhe a engenharia que há em tudo o que há

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp
Email
Veja a nossa
agenda aqui​