Grandes Entrevista de Engenharia com… Rui Rebelo

Rui Rebelo, engenheiro eletrotécnico, fala-nos da sua experiência numa empresa alemã, e partilha connosco a sua visão da Engenharia, dos engenheiros e do futuro pós Covid-19.

 
É responsável de grandes clientes mundiais do Grupo ACO, uma multinacional alemã, líder mundial no mercado das drenagens superficiais. O Grupo ACO tem mais de 80 empresas, 5400 funcionários e uma faturação de 900 milhões de euros.
Conheça Rui Rebelo que nos deixa um aviso: “após a vacinação, muitos já nem vão ter cadeira e secretária à sua espera.”
 

 
Para quem não o conhece, fale-nos um pouco do seu percurso para podermos contextualizar os leitores.
Como é habitual na nossa classe, comecei por ser professor do ensino secundário, atividade que adoro, mas o bichinho da Engenharia era mais forte e rapidamente me chamou para outras guerras. No início tive um percurso sinuoso entre as áreas das vendas e técnica em busca da minha “praia”. Acabei por encontrar na Gestão Empresarial o meu caminho. A dificuldade de entender os modelos de Gestão que encontrei, levaram-me a procurar uma solução em que conseguisse implementar as minhas ideias – o que consegui na ACO, na qual estou há mais de 25 anos. A minha atividade passou por estabelecer empresas em Portugal, Chile, Colômbia e, ainda, gerir e alargar a unidade produtiva do grupo na China, complementadas com atividade profissional em países tão dispersos como Austrália, México, Equador, Perú, Coreia do Sul, Hong Kong, Brasil, Argentina e África negra. Um percurso que empiricamente me ajudou a desenvolver uma abordagem à gestão empresarial alargada e focada no que é verdadeiramente importante para fazer a diferença em todos estes mercados.

Tendo em conta o seu longo percurso, por que razão acha importante estar inscrito na Ordem dos Engenheiros?
Contrariamente ao que muito se ouve, o ensino básico (INA) e superior (ISEC) deram-me tudo o que precisei até hoje para fazer o meu percurso. Mas se o mundo é composto de mudança, como diz o poeta, hoje a velocidade da mesma julgo que o espantaria. A necessidade de acompanhar os desenvolvimentos da nossa formação base, acrescidos dos requisitos de interdisciplinaridade do nosso dia-a-dia fazem da formação e do corporativismo plataformas ideais para manter-nos atualizados.
 

“Em Portugal devia ser levado avante um projeto para se transformar

num hub educativo de classe premium”

A ACO é uma empresa alemã. Quais as principais diferenças com empresas homólogas em Portugal?
A ACO é uma empresa totalmente familiar que, um pouco no espírito alemão, é muito descentralizadora. Think Global act Local é um dos seus lemas. Das mais de 80 empresas do Grupo, havendo uma espinha dorsal, cada uma é diferente em si mesma. Cada gestor tem que ter perfil empreendedor e atuar como se fosse o proprietário da mesma. Essa espinha dorsal, comum a todas as empresas alemãs, é o planeamento. A ACO como empresa global resolveu a famosa “quadratura” alemã permitindo essa descentralização e autonomia, granjeando assim uma adaptação a cada mercado, sempre dentro da legalidade!
 

“A Engenharia portuguesa está muito bem

comparativamente com as suas rivais no Mundo”


 
Como vê a Engenharia que se faz em Portugal, na sua área em concreto. Consegue identificar o melhor e o pior comparativamente com a Alemanha?
Mais que falar da Engenharia em Portugal, justifica-se falar da Engenharia portuguesa no mundo. A observação efetuada ao longo de mais de 30 anos em diversas latitudes e culturas, é que a Engenharia portuguesa está e cuida-se muito bem comparativamente com as suas rivais no Mundo. Não tenho dúvidas sequer que em Portugal devia ser levado avante um projeto para se transformar num hub educativo de classe premium.
 

Creio que nesta área [Engenharia] ainda há muito a fazer para nos colocarmos ao nível de uma atividade como a da Medicina.”

 

A perspetiva global de Engenharia é menosprezada na maior parte dos países do Mundo, principalmente nos mais desenvolvidos, Alemanha incluída. A especialização é levada ao extremo, mas descura-se a interdisciplinaridade. E, cada vez mais, o mundo é interdisciplinar. A minha formação académica tanto quanto a especificidade do curso de Eletrotécnica, ministrou-me o “pensar e a atitude de Engenharia” – em que a melhor solução não é apenas suportada por cálculos matemáticos, mas inclui todas as envolventes diretas e indiretas na decisão final.  Em Portugal, como lá fora, há pelo menos um ponto comum que é a ditadura da política/políticos sobre a Engenharia/engenheiros. Creio que nesta área ainda há muito a fazer para nos colocarmos ao nível de uma atividade como a da Medicina.
 

Algum/a engenheiro/a que esteja a ler esta entrevista e que pense em trabalhar na mesma área, quais as skills que acha fundamentais terem para progredir na carreira?
Eu diria que a base determinante são adaptabilidade e atitude. A adaptabilidade pois já Darwin demonstrou o quão benéfica nos pode ser. A atitude, como base comparação face aos demais através, entre outras, da disponibilidade. Depois,  pensar muito “à engenheiro”. Finalmente, se puderem e estiverem a fim, viagem profissionalmente o mais que possam, residam se possível!
 

“Ainda que a robótica, entre outras, se vá gradualmente apoderando de muita atividade, a fase de obra necessitará no momento da componente humana.”


Uma vez que já passou pela experiência, quais os erros que não se devem cometer quando se trabalha com alemães?
Os alemães, do meu ponto de vista, para mim são o melhor povo para se trabalhar. Leais, honestos, simples, práticos e seguros! Mas, “quadrados”! E há que deixá-los ser. Portanto considerar o supracitado e a vida será muito simples!
 

“Após a vacinação, muitos já nem vão ter cadeira e secretária à sua espera.

E não falo de desemprego!”


Tendo em conta a atual crise decorrente da pandemia por covid-19, quais as oportunidades que os engenheiros devem aproveitar? Onde acha que estão as oportunidades?
O Mundo tal como o conhecíamos acabou no primeiro confinamento e por decreto.  Ainda que a quase totalidade de nós, após a vacinação atinja os objetivos, continue a pensar em voltar ao trabalho de uma maneira tradicional, casa-transportes-escritório e vice-versa, muitos já nem vão ter cadeira e secretária à sua espera. E não falo de desemprego! Vamos negociar, reunir, falar, promover, de maneira diferente.  As oportunidades da Engenharia vão estar na adaptabilidade. Pese no entanto a Engenharia ser um atividade onde a prática é uma componente fundamental. Ainda que a robótica, entre outras, se vá gradualmente apoderando de muita atividade a fase de obra necessitará no momento  da componente humana.
 
Que tipo de engenheiros trabalham consigo? Em que áreas?
Nesta trajetória trabalham comigo engenheiros Civis, Hidráulicos, Químicos, Informáticos, Ambiente, Mecânicos, Eletrotécnicos. Desenvolvimento de produto, Dados e Informação, Produção.

Nomeie um engenheiro do Norte que esteja a desenvolver um trabalho que aprecia, dentro ou fora de Portugal.
O Miguel Rovira na área de Gestão empresarial top ao nível da Europa. Na recuperação da solvabilidade de uma empresa que há mais de 10 anos dava invariavelmente prejuízos.

“Exceto a intocada Mãe Natureza tudo o que os nossos sentidos

nos assinalam é fruto da Engenharia!

 
Há Engenharia em tudo o que há? Explique.
A Engenharia é a arte de transformar o pensamento, humano ou não, em realidade, ainda que virtual. Sendo assim, exceto a intocada Mãe Natureza tudo o que os nossos sentidos nos assinalam é fruto da Engenharia!

Entrevista: Catarina Soutinho | Design: Melissa Costa

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