Grandes Entrevistas de Engenharia com… Eduardo Ribeiro

É licenciado em Engenharia Química pela FEUP, mas depois de frequentar o programa ERASMUS, a sua carreira acabou por ser sempre feita no estrangeiro. Nunca trabalhou em Portugal, e atualmente exerce funções no departamento de Gasificação e Hidrogénio da Shell Global Solutions – Projects and Technology (P&T), na Holanda.

Conheça Eduardo Ribeiro, Green/Blue Hydrogen & Syngas Specialist, que se dedica a projetos na área da descarbonização.

 
 

Nunca trabalhou em Portugal. Conte-nos como foi o seu percurso até chegar à Shell?

Estudei Engenharia Química na FEUP e em 2005 participei no programa ERASMUS, no departamento IVC-SEP Danish Technical University, no qual tive a oportunidade de concluir a tese final de curso. Para além da credibilidade académica, o meu objetivo foi explorar uma sociedade culturalmente muito diferente da portuguesa e aprender o porquê dos países nórdicos estarem num patamar acima de Portugal. Nesse contexto, em 2006, integrei um programa de pós-mestrado Professional Doctorate in Engineering degree (PDEng) na Holanda, e desde então fiquei. No final do programa aceitei o convite da Technip para integrar a equipa de design e tecnologia na área de produção de Hidrogénio. Durante 5 anos tive a oportunidade de realizar vários projetos e algo que nunca esquecerei que foi participar no comissionamento e arranque da unidade de Hidrogénio na refinaria da GALP em Sines.
 

 “Devido a crise económica que se assentou, em 2008,

não procurei emprego em Portugal”

 

O que é um Green/Blue Hydrogen & Syngas Specialist? Quais as suas funções?

Em 2013, surgiu a oportunidade de integrar a Shell Global Solutions – Projects and Technology (P&T) no departamento de Gasificação e Hidrogénio sendo que as minhas principais responsabilidades são a consultadoria técnica a unidades fabris / refinarias (asset support), incluindo comissionamento e arranque; desenvolvimento tecnológico e otimização de processos e participação em novos projetos (área Gas-to-Liquids GTL). Atualmente, dedico-me a projetos na área de descarbonização, mais precisamente na produção de Hidrogénio Verde/Azul cuja aplicação vai desde produção de bio-combustíveis e/ou produção de Amónia como forma de transporte de Hidrogénio.
 

Porque decidiu ir trabalhar para a Holanda, não haveria uma oportunidade semelhante em Portugal?

A oportunidade surgiu assim que terminei os estudos (2008). Nessa altura, devido a crise económica que se assentou, não procurei emprego em Portugal. Estava satisfeito por iniciar a atividade laboral e queria expandir os meus horizontes numa empresa internacional.

Trabalhar num país diferente pode ser desafiante. Como foi a sua integração na empresa?

Apesar da Technip ser uma empresa internacional, o escritório na Holanda tem um ambiente muito familiar e acolhedor que torna a adaptação, quer à cultura, quer à empresa, muito fácil. Isto também se deve ao facto do número de nacionalidades ser mais vinte. No que diz respeito à Shell, o ambiente corporativo requer uma forma de atuação e comunicação diferentes.
 

Compensa estar longe da família? Vale a pena?

Para mim é importante fazer o que gosto, ser livre de fazer o que gosto e explorar novos caminhos. Três horas é o tempo que nos separa, por isso vale sempre a pena seguir o nosso sonho ou ambições.
 

“Na Shell, existem, não só, muitas mulheres em lugares de topo, mas também em áreas com R&D, projetos e refinarias.”

 

A Engenharia continua a ser uma profissão de homens?
Nos tempos atuais e, apesar de haver ainda alguma desigualdade, penso que Engenharia não é uma profissão de homens. Na Shell, existem, não só, muitas mulheres em lugares de topo, mas também em áreas com R&D, projetos e refinarias. Por outro lado, trabalhar num ambiente em que o género é diversificado torna a criação de ideias e as formas de trabalhar mais interessantes e frutíferas.
 

“Mais do que componentes técnicos, as soft skills são cada vez mais importantes. Na componente técnica, programar ou usar software comercial é fundamental.”

 

Trabalhar no Holanda, é seguramente muito diferente de trabalhar em Portugal. Quais as grandes diferenças que encontra?

Apesar de não ter trabalhado (ainda) em Portugal, das conversas que tenho com amigos e colegas (que também trabalharam no estrangeiro) apercebo-me que existe, de certa forma, alguma falta de metodologia, planeamento e execução de acordo com o planeado. Talvez seja por não haver processos incutidos, falta de formação ou desinteresse. Mas esta possível descoordenação pode levar a que se saltem etapas sem que a anterior esteja devidamente finalizada. Outro aspeto é a forma de trabalho antiquada que não promove um sentido “ownership” aos jovens engenheiro(a)s quando lhes é atribuída uma tarefa ou projeto.
 

Algum/a engenheiro/a que esteja a ler esta entrevista e que pense em trabalhar na mesma área, quais as skills que acha fundamentais terem?

Curiosidade, dedicação, aprendizagem contínua, capacidade de se relacionar com os colegas e expor as suas ideias claras e objetivas, autenticidade e “ownership”. Mais do que componentes técnicos, as “soft” skills são cada vez mais importantes. Na componente técnica, programar ou usar software comercial é fundamental.
 

Tendo em conta a atual crise decorrente da pandemia por Covid-19, quais as oportunidades que os engenheiros devem aproveitar? Onde estão as oportunidades, na sua opinião?

Aposta na inovação a nível de materiais e/ou tecnologias sustentáveis. Formação pessoal em várias áreas – multidisciplinaridade.
 

Recomenda uma experiência internacional? Porquê?

Sim, permite uma interação social, técnica e psicológica que trará frutos a longo prazo.

 

Que tipo de engenheiros trabalham consigo, há mais portugueses? Em que áreas?

Tenho vários colegas portugueses sendo que a maioria tem como formação base de Engenharia Química.
 

“A Engenharia sempre esteve na moda, contudo nunca foi valorizada como devia a nível salarial”

 

É respeitada e valorizada a formação portuguesa em Engenharia na Holanda?

Na Holanda o respeito é ganho e valorizado pela demonstração de resultados. E nisso tenho a certeza que todos os colegas portugueses, que se encontram em multinacionais ou outras empresas de menores dimensões, demonstram as suas qualidades técnicas e socias acima da média.
 

A Engenharia está na moda? Porquê?

A Engenharia sempre esteve na moda, contudo nunca foi valorizada como devia a nível salarial e possivelmente nem na posição na estrutura da empresa.
 

Nomeie um engenheiro do Norte que esteja a desenvolver um trabalho que aprecia, dentro ou fora de Portugal.

Diogo Mendes – Diretor Técnico da Bondalti. Aprecio a sua dedicação em melhorar cada vez mais os aspetos de segurança no grupo, na sua visão sobre a produção e aplicação de Hidrogénio verde no sentido de redução de emissão de gases de efeito de estufa e também no sei apoio a programas de R&D.

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