Grandes Entrevistas de Engenharia com… Marco Lopes

PERFIL MARCO LOPES

Formação: Licenciatura em Engenharia Mecânica e Pós-Graduação em Fluidos e Transferência de Calor na Universidade do Minho

Função atual: CEO | Ocramclima

Outras funções/cargos:
– Engenheiro de Projeto na IDOM Consulting, Engineering, Architecture
– CEO na Vieira&Lopes

Depois de uma passagem pelo mundo da climatização e redes de gás natural, Marco Lopes licenciado em Engenharia Mecânica, sentia “que precisava de mais”.

Depois de outras experiências reinventou-se ao criar a Ocram Clima, que hoje, é líder no desenvolvimento e fabricação de soluções avançadas de climatização, e firmou contrato para o fornecimento de equipamentos para o Telescópio Extremamente Grande, o mega observatório em construção no deserto de Atacama, no Chile. Será o maior telescópio do mundo para a luz visível e infravermelha: o maior olho do mundo no céu e há Engenharia portuguesa envolvida neste feito.

Para quem não o conhece, quem é Marco Lopes?

Sou formado em Engenharia Mecânica pela Universidade do Minho, depois fiz uma pós-graduação em Fluidos e Transferência de Calor na mesma universidade. Trabalhei numa empresa de Engenharia multinacional, a Idom Engenharia, em projetos de climatização e redes de gás natural (gasodutos). Fundei a Vieira & Lopes, uma empresa sediada em Braga e completamente voltada para a instalação de AVAC (Aquecimento, Ventilação e Ar condicionado). Depois da crise da construção, criamos a marca Ocramclima, onde deixamos de lado a instalação de máquinas de AVAC que passamos a fabricar. Uma marca pensada em servir o mercado de AVAC com uma resposta de qualidade e diferenciação no produto para os clientes mais exigentes.

Venci o Prémio Nacional de Inovação (antigo BES Inovação) na categoria de Clean Tech & Processos Industriais em 2012. Este prémio é atribuído a um equipamento de purificação de ar – o NPS (Nano Purifing System), que no Covid19 foi um dos equipamentos mais importantes na nossa atividade e faturação.

Abri uma empresa em França e na Dinamarca. Atividades um bocadinho diferentes daquilo que fazemos em Portugal, mais ligadas aos serviços associados.

Fotografia do Extremely Large Telescope (ELT); Fonte: ESO

Como é que surgiu a colaboração entre a OCRAM Clima e o European Southern Observatory (ESO), no seguimento do projeto do mega observatório Extremely Large Telescope (ELT)?

Esta colaboração entre a Ocramclima e a ESO surgiu depois de muitas tentativas e erros. A nossa colaboração com a ESO para este projeto do ELT nestes dois últimos anos foi dimensionar e desenvolver uma solução avançada na área da climatização, no qual as Unidades de Tratamento de Ar têm que garantir a estabilidade térmica no interior do ELT bem como outras exigências necessárias para o bom funcionamento do mesmo, sem colocar em causa as observações científicas.

“Levar a imagem de Portugal num projeto desta envergadura é sinónimo de orgulho para todos e mais uma vez é mostrar que no nosso país há talento”

Marco Lopes

Tem sido exigente?

É dos projetos mais exigentes e desafiadores que alguma vez tivemos, mas tenho a certeza de que toda a equipa está orgulhosa deste marco e de fazerem parte deste edificado, até porque o último telescópio a ser construído foi há mais de 25 anos. Portanto, enquanto marca e projeção no mercado, considero que está na hora de colher alguns frutos de tanta semente que se colocou na terra. Levar a imagem de Portugal num projeto desta envergadura é sinónimo de orgulho para todos e mais uma vez é mostrar que no nosso país há talento, há espaço para criar, há margem para crescer e há profissionais de excelência!

“A Torre dos Clérigos, um monumento emblemático que tem UTA’s da Ocram clima, mas que ninguém sabe porque ninguém as vê”

Marco Lopes

Para além desta colaboração, há algum projeto que desenvolveu que se destaque? De que forma?

Somos uma empresa que aposta não tanto em soluções standard, mas mais em projetos icónicos de alto desempenho, ligados à eficiência e qualidade. Começava por mencionar a Airbus, onde já fornecemos dezenas de UTA’s de grandes dimensões para as cabines de pintura dos aviões, o novo terminal 3 do aeroporto de Copenhaga, a sede do grupo Saint-Gobain na Defense em Paris, Serum Institut na Índia que é o maior fabricante de vacinas do mundo e que grande parte das máquinas que controlam o ar são Ocram clima.

Depois temos vários projetos em Portugal, espalhados por todo o país e muito diversificados a nível de setores como hospitalar, indústria automóvel, indústria alimentar, têxtil, hoteleiro, entre outros. Mas claro, não posso esquecer a Torre dos Clérigos, um monumento emblemático que tem UTA’s da Ocram clima, mas que ninguém sabe porque ninguém as vê.

Como é que a sua formação em Engenharia Mecânica contribuiu para a evolução da Ocram Clima?

Sendo formado em Engenharia, há sempre aquela vontade e caráter de querer mais, saber mais e tentar fazer mais com menos. E sobretudo, de criar, projetar algo que sirva um propósito, que seja útil. Independentemente de ser Engenheiro Mecânico ou não, penso que esta área é sinónimo de ter capacidade de planear e executar.

A Ocramclima é resultado disso mesmo e tenho a noção que se não fosse formado nesta área seria tudo mais difícil. Costumo dizer que, o curso de Engenharia Mecânica facilitou-me muito na capacidade de planear, no resolver problemas técnicos, mas não só, pensar de forma eficiente e qualitativa. Com vontade e paixão, tudo se aprende e tudo se faz. Pode muitas vezes demorar algum tempo, mas consegue-se.

Tenho por hábito dizer que fazemos máquinas bonitas e com excelente qualidade, mas que ninguém as vê. E isso às vezes é ingrato, mas sabemos que está projetado e concebido para algo mais importante que é proteger e dar qualidade de ar à vida das pessoas.

Para algum/a Engenheiro/a que esteja a ler esta entrevista e que pense em trabalhar na mesma área e alcançar patamares como a colaboração internacional, quais as skills que acha fundamentais terem?

Preparem-se mental e psicologicamente para aguentar uma área desafiante e em constante mudança, onde muitas vezes as coisas demoram muito a aparecer. Se acreditam no vosso potencial e nas vossas capacidades, sigam em frente! Diria que é preciso muita resiliência, paixão, trabalho e alguma sorte. Depois é trabalhar diariamente para serem os melhores, mas rodeiem-se de pessoas que possam ser tão apaixonadas pelo projeto e acreditarem tanto quanto vocês.  

Sendo Engenheiro, qual acha que deveria ser o papel da Ordem dos Engenheiros no futuro e na vida profissional dos Engenheiros, para além do tradicional a que estamos habituados?

Trabalhamos com várias instituições onde recebemos Engenheiros de entidades nacionais e internacionais. O que vemos de diferente em relação a Portugal, é que os Engenheiros no início do curso, começam logo a ser integrados nas empresas e isso não acontece em Portugal, o que leva a uma grande diferença entre o mundo académico e empresarial. Penso que a Ordem dos Engenheiros podia ser mais interventiva nas ações no acompanhamento quer dos jovens, quer dos Engenheiros mais experientes ou seniores e organizar ações que permitam aproximar o tecido empresarial e o universitário, isto logo no início dos cursos. Engenharia continua a ser uma área bastante apelativa e há muitos jovens que anualmente saem das Universidades formados, mas não fazem a mínima ideia do que é o mercado de trabalho.

Quais são os maiores desafios que os Engenheiros enfrentam neste século?

Diria que esta questão é um desafio para todos e não apenas para Engenheiros. Mas, enquanto Engenheiro Mecânico e administrador de três empresas, diria que os maiores desafios são as rápidas mudanças tecnológicas que fazem com que o ritmo de desenvolvimento de novos produtos e acompanhamento do mercado seja muito acelerado, a competitividade e a busca de soluções sustentáveis, quer na nossa área quer noutros setores são de extrema importância. Depois a incorporação da inteligência artificial que veio ajudar em algumas coisas, mas começamos a ter um problema ético e de identificação, a criação de novos produtos que beneficie a sociedade como um todo, as ameaças digitais e a automatização. Os desafios são tantos e tão constantes que eu diria em jeito de resumo que o maior de todos é manter uma excelente qualidade de vida de forma sustentável.

“Os desafios são tantos e tão constantes que eu diria em jeito de resumo que o maior de todos é manter uma excelente qualidade de vida de forma sustentável”

Marco Lopes

Há futuro onde há Engenheiros? Justifique.

A resposta é um grande sim! Existe sempre um futuro para os Engenheiros. A capacidade de engenhar começou desde o início da existência humana e com os desafios que foram mencionados na resposta anterior ainda temos muito por e para fazer. Mas se me permitem lanço um desafio e viro a questão: se não houvesse engenheiros havia futuro?

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