Grandes Entrevistas de Engenharia com… Ricardo Fernandes

O único português a trabalhar na Louis Vuitton, em Espanha, é licenciado e mestre em Engenharia e Gestão Industrial, tem 29 anos e chama-se Ricardo Fernandes. Uma vaga no Linkedin abriu-lhe caminho para um verdadeiro “emprego de luxo”. 


É Continuous Improvement Engineer (Engenheiro de Melhoria Contínua) na Louis Vuitton, em Espanha. Ainda antes “deitar a mão” às carteiras mais cobiçadas do mundo, passou por uma empresa de exportação de azeitonas de mesa, na Andaluzia. Nasceu na Madeira, mas foi na FEUP que fez todo o percurso académico. Agora, à distância, continua a acompanhar com orgulho que os colegas fazem em Portugal. “Vi através das redes sociais companheiros de faculdade a criarem ventiladores e senti-me orgulhoso.”
Conheça Ricardo Fernandes, que leva a Engenharia Portuguesa até a famosa marca: Louis Vuitton.
 
O Ricardo começou o seu percurso profissional numa empresa de azeitonas… 
Nasci na Madeira e vivi na ilha até aos 18 anos. Mudei-me para o Porto para estudar Engenharia e Gestão Industrial na FEUP, e mais tarde, decidi fazer a minha dissertação no estrangeiro, através do programa Erasmus. Vim para Espanha para uma empresa de produção e exportação de azeitonas de mesa, a Agro Sevilla Aceitunas, situada na Andaluzia.
 

“Encontrei a oportunidade na Louis Vuitton através do Linkedin e decidi candidatar-me.

Foi um processo um pouco longo”

 

Como chega até uma das mais prestigiadas marcas de moda?
Assim que acabei a minha dissertação, fui contratado como analista de processos nessa empresa. Foi o meu primeiro contacto com o mundo industrial e sem dúvida ajudou-me a crescer profissional e pessoalmente. Encontrei a oportunidade na Louis Vuitton através do Linkedin e decidi candidatar-me. Foi um processo um pouco longo e tive de passar por várias entrevistas, uma delas em francês, para avaliar a minha capacidade linguística. Finalmente fui o escolhido.
 
Fale-nos um pouco da sua empresa e das suas funções e responsabilidades?
Entrei na Louis Vuitton como engenheiro de melhoria contínua do departamento de logística. Entre as minhas funções estão a otimização de processos e elaboração de indicadores de performance. Atualmente estamos a trabalhar num projeto de convergência com todos os ateliers da empresa e tenho como responsabilidade garantir a correta implementação de novos processos. Para isso, tenho de realizar estudos nas várias secções do armazém e também definir o número de pessoas necessárias.
 

“[Na Louis Vuitton] Todos os dias aprendo algo novo. Até tive de costurar uma carteira! “

 
Sabemos que a Louis Vuitton é uma marca de luxo, é também uma empresa de luxo para um engenheiro trabalhar?
Sem dúvida! É uma empresa que investe na formação dos seus trabalhadores e onde é possível progredir. Existe também uma grande aposta na área social, o que ajuda a motivar os seus trabalhadores.
 
Compensa estar longe da família? Vale a pena?
É sempre difícil estar longe da família e dos amigos, principalmente naqueles dias mais complicados, mas com as tecnologias que existem atualmente fica tudo à distância de um clique. Apesar disso, é uma experiência que vale a pena, e onde cada dia sinto que cresço como pessoa.
 

“Sou o único português na Louis Vuitton em Espanha

 
Que tipo de acompanhamento tem um engenheiro na empresa Louis Vuitton?
Quando entrei na Louis Vuitton, fiz formação pelos vários departamentos para conhecer a organização. Temos uma estrutura muito complexa e por isso necessitamos conhecer um pouco de tudo, e todos os dias aprendo algo novo. Até tive de costurar uma carteira! Desde que entrei na empresa já participei em várias formações em França com colegas de outros ateliers. É uma empresa que aposta na formação de soft skills.
Que tipo de engenheiros trabalham consigo, há mais portugueses? Em que áreas?
A grande maioria dos engenheiros aqui na Louis Vuitton têm formação em engenharia industrial e podemos encontrá-los em vários departamentos (logística, produção, qualidade…). Sou o único português na Louis Vuitton em Espanha, embora tenha colegas de várias nacionalidades.
 

“Portugal tem ótimos engenheiros industriais que trabalham em grandes empresas e que fazem trabalhos excelentes.”

 
Como vê a Engenharia que se faz em Portugal, na sua área em concreto. Consegue identificar o melhor e o pior?
Portugal tem ótimos engenheiros industriais que trabalham em grandes empresas e que fazem trabalhos excelentes. Quando estávamos em confinamento e os hospitais estavam chegando ao limite, vi através das redes sociais companheiros de faculdade a criarem ventiladores e senti-me orgulhoso. O que acontece é que, muitas vezes, esses engenheiros não são reconhecidos.

Algum/a Engenheiro/a que esteja a ler esta entrevista e que pense em trabalhar na mesma área, quais as skills que acha fundamentais terem?
Para trabalhar nesta área, na minha opinião, um engenheiro deve ter capacidade de adaptação às constantes mudanças e empenho no seu trabalho.
 

“Sou consciente que venho de uma instituição de ensino exigente e sinto-me bem formado.”

 

Tendo em conta a atual crise decorrente da pandemia por covid-19, como foi a adaptação na sua empresa?
Como em todas as empresas, tivemos de fazer adaptações à nossa forma de trabalhar. Adotámos o uso da máscara e a separação física entre as pessoas. Isto dificultou o meu trabalho porque tenho contato direto com os trabalhadores do armazém, mas acredito que vamos sair desta situação e voltar a uma normalidade.
 
Recomenda uma experiência internacional? Porquê?
Recomendo plenamente uma experiência internacional. É um desafio adaptar-se a novas realidades e conhecer outras culturas. Faz-nos crescer bastante e acho que quem tem a oportunidade de o fazer, deve aproveitá-la.
 
É respeitada e valorizada a formação portuguesa em Engenharia na sua empresa?
Não sinto que seja mais ou menos valorizado por ter formação portuguesa. Sou consciente que venho de uma instituição de ensino exigente e sinto-me bem formado.
 

“Somos cada vez mais exigentes e só a Engenharia para colmatar estas novas necessidades.”

 
Qual é segredo para ser um bom engenheiro? Há segredo?
Não posso dizer que haja um segredo. Na minha opinião, um bom engenheiro é aquele que se dedica para garantir a excelência no seu trabalho.
 
O que é para si mais desafiante e mais compensador enquanto engenheiro?
O mais desafiante para mim, é ajudar os trabalhadores do armazém a aceitarem as mudanças, no seu dia-a-dia de trabalho. É sempre um desafio! No entanto, isto leva-me ao mais compensador, que é quando vejo um sorriso nas suas caras, porque, de facto, melhorámos as suas condições.
 
A Engenharia está na moda? Porquê?
Sim, a engenharia está na moda. Somos cada vez mais exigentes e só a Engenharia para colmatar estas novas necessidades.

“É muito importante haver uma organização como a ordem dos engenheiros que defenda a nossa profissão.”

 
 

Como vê a atividade da Ordem dos Engenheiros – Região Norte? Acompanha? Qual a sua opinião?
É muito importante haver uma organização como a Ordem dos Engenheiros que defenda a nossa profissão. Como vim trabalhar para o estrangeiro, não sigo fielmente o trabalho da ordem, mas defendo que deve ter um papel fundamental na vida do engenheiro, como um escudo de proteção.
 
Há Engenharia em tudo o que há? Explique.
A Engenharia está presente em toda a parte e basta olhar ao nosso redor. Facilmente identificamos algo que foi criado por um engenheiro. A Engenharia ajuda-nos a melhorar a nossa qualidade de vida e tenho a certeza que faremos muito mais.

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