Há bolsas de estudo em Engenharia Florestal na UTAD

Nádia Piazza é presidente da Associação das Vítimas de Pedrógão Grande, e este ano venceu o prémio Dona Antónia Adelaide Ferreira, na 30ª edição de evento. Nádia Piazza foi premiada na categoria de Prémio Revelação, que visa reconhecer um percurso de vida com relevância em fase de afirmação e desenvolvimento, neste caso concreto, na área da responsabilidade social.
Aquando a atribuição do prémio, a jurista  anunciou que vai destinar o prémio pecuniário para atribuir novas bolsas de estudo a alunos da região, desta vez em Engenharia Florestal na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

Anunciou quando recebeu o prémio que irá destinar parte do prémio para a atribuição de bolsas de estudo na área da Engenharia Florestal. Pode explicar-nos um pouco como serão atribuídas essas verbas, a quem e como se processará a atribuição?
A concessão de bolsas de estudo visa ajudar, direta e indiretamente, as pessoas dos municípios abrangidos que carregam o legado imaterial da tragédia — ajudar a redescobrir razões de esperança, antever diferentes horizontes e oportunidades, abrir novas perspetivas, olhar em frente. A este fundo poderão ligar-se outras pessoas singulares ou coletivas que façam doações complementares.  Trata-se de um programa de atribuição de bolsas de estudo que a AVIPG tem acarinhado e apoiado e que funciona em parceria com a Fundação Júlio Resende. Faço parte do Júri juntamente com elementos da Fundação Júlio Resende e já atribuímos 8 bolsas de estudo em Artes a alunos dos concelhos afetados pelos fogos de junho de 2017. Nesta sequência, a AVIPG e a Fundação Júlio Resende, em parceria ainda com a UTAD, estão a recetivos a donativos para o lançamento de bolsas em Engenharia florestal. Assim, decidi consignar o prémio D. Revelação para atribuir bolsas de estudo em Engenharia Florestal.
O fundo mantido pela Fundação Júlio Resende, em que a AVIPG é parceira, cuja génese está igualmente ligada à tragédia dos incêndios florestais de Junho de 2017, tem como ramo complementar às artes, as florestas, constituindo assim um segundo objeto do fundo. O 2.º ramo do fundo destina-se assim a bolsas de estudos em ciências e gestão das Florestas.  A UTAD, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, concede isenção de propinas aos bolseiros. Excecionalmente, a direção do Fundo pode aprovar a extensão do 2.º ramo aos municípios atingidos pela tragédia dos incêndios de 15 de Outubro de 2017, alargando assim os municípios atingidos pelos incêndio de junho de 2017.
Que requisitos devem cumprir os bolseiros?
Os candidatos e os bolseiros devem cumprir, além das diligências definidas pela direção do fundo, as três condições seguintes em conjunção:

  1. a) 1.ª condição: Só pode candidatar-se quem, à data, seja residente num dos municípios abrangidos; e ainda quem, sendo não residente, seja filho ou neto ou bisneto de residentes e, nestes casos, as candidaturas sejam acompanhadas por declaração do familiar residente;
  2. b) 2.ª condição: Pode candidatar-se quem estiver em relativa carência económica;
  3. c) 3.ª condição: Pode candidatar-se quem tiver aproveitamento escolar.

Atribuída a bolsa, esta pode ser retirada ou interrompida por desistência, ou por falta de aproveitamento do bolseiro, ou por falhas de verdade declarativa, ou por outras quebras de confiança e boa fé. A divulgação das bolsas de estudo, a apresentação de candidaturas e a nomeação dos bolseiros são feitas, preferencialmente, nos sites da AVIPG e da Fundação Júlio Resende.
Quanto à 1.ª condição do artigo anterior, o candidato deve apresentar declaração da Junta de Freguesia ou, quando for o caso, declaração do ascendente familiar residente confirmada pela Junta de Freguesia.
Quanto à 2.ª condição do artigo anterior, o candidato deve declarar as suas razões económicas e, entre outras informações, deve especificar o número das pessoas do agregado familiar e as profissões exercidas.
Quanto à 3.ª condição do artigo anterior, o candidato deve fazer o seu breve historial escolar, até à data da candidatura. O valor mensal de cada bolsa não pode ultrapassar o vigente IAS, indexante dos Apoios Sociais, www.seg-social.pt (em 2017, 421€/mês). A normal duração da bolsa é nove meses no ano e o seu valor máximo anual é 9 x IAS, mas se os estudos do bolseiro tiverem duração inferior ao ano letivo, a bolsa será proporcional. Em cada ano pode o fundo beneficiar vários bolseiros, desde que haja dotação. 6. Não havendo dotação bastante, os candidatos deverão ser seriados pela direção do fundo
Como podem ser apresentadas as candidaturas à bolsa de investigação?
As candidaturas são livremente apresentadas, por carta pessoal, em qualquer um dos sites pré-definidos pela direção do fundo, devendo sempre o candidato confirmar a entrega da candidatura por email enviado para a AVIPG: afvipg@gmail.com e para o Lugar do Desenho — Fundação Júlio Resende: info@lugardodesenho.org. Enquanto não for fixado prazo para as candidaturas, estas são apresentáveis a qualquer momento.
A investigação em Engenharia florestal é fundamental para prevenir catástrofes como a de Pedrogão Grande? Como?
A meu ver, é fundamental dotar Portugal de mais recursos humanos em Engenharia Florestal com competências no reconhecimento aprofundado das componentes e das interações nos ecossistemas florestais, desenvolvendo e aplicando o conceito de sustentabilidade na prática florestal, na perspetiva da conservação futura dos recursos naturais. Pretende-se que os engenheiros com esta formação avançada sejam capazes de conceber, elaborar e realizar projetos e estudos inovadores em ambiente multidisciplinar envolvendo as várias componentes dos recursos, das atividades e do património florestal.  E em especial, competências em planeamento florestal, fundamental para um necessário ordenamento do território, prevenindo assim a magnitude dos incêndios rurais em Portugal.
Maior qualificação através de engenheiros Florestais que melhor terão a perceção e resolução de problemas nas áreas de: conservação e gestão sustentável dos recursos florestais e agroflorestais; ecologia e gestão do fogo; ecologia dos sistemas ripícolas e proteção da biodiversidade; gestão sustentável dos solos; restauração de ecossistemas florestais; ordenamento de recursos cinegéticos.
Na função pública ou como profissionais liberais, o território precisa de “desenhadores de paisagens”, e que deve ter em atenção o que já dizia o arquiteto Gonçalo Ribeiro Teles há anos e que é em tudo atual: “O País está completamente desordenado. Por um lado, uma política agrícola que não considera o mosaico mediterrânico, com agricultura, pecuária, regadio e horticultura, os matos, as matas, todo um mosaico interligado e ordenado.” (ver em aqui). Para tal são precisos consultores e melhores agricultores e engenheiros florestais.
Quer deixar uma mensagem para os engenheiros que se queiram candidatar a esta bolsa?
O funcionamento de atribuição das bolsas obedece a regras de simplicidade, transparência e rigor. Os candidatos e os bolseiros assumem e subscrevem compromissos de verdade, confiança e boa fé. Consideram-se municípios abrangidos os concelhos de Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos, Góis, Pampilhosa da Serra, Sertã e Penela (distritos de Leiria, Coimbra e Castelo Branco).  Admitir-se-ão, excecionalmente e mediante análise do Júri, candidatos oriundos das regiões afetadas pelos incêndios de outubro de 2017. Que pretendam ser “desenhadores de paisagens”, arquitetos de grandes cenários. Que investiguem o que de melhor se faz pelo mundo, no respeito pelas condições naturais oferecidas pelo território, cenário da sua atuação. Que é na multipliscidade de usos, em mosaico, complementarmente, que está o futuro. Portugal é um pequeno país, não se pode dar ao luxo de ter apenas floresta industrial ou apenas agricultura e pecuária nem tão-só parques naturais. O País precisa disso tudo em diferentes graus consoante a condições edafo-climáticas, a orografia, etc.

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