Quando se retomar a realidade, teremos o mesmo País, o mesmo Mundo?

Por
António Cruz, Secretário da Mesa da Assembleia Regional da Ordem dos Engenheiros – Região Norte

 
Confinaram-nos à casa como que se fosse um “bunker” para nos protegermos, não de mísseis cruzeiros, bombas atómicas, de nitrogénio, de neutrões ou outras, porque as nossas casas não estariam preparadas para tais poderosos engenhos, mas para nos defendermos de uma nano partícula que fará parte das 40 000 integradas numa nuvem de vapor de água que não terá mais de meio metro cúbico de volume, projectada a não mais de 160 km/h até 1,50 m de distância que a cada um de nós pode ocorrer, espirrando!
Um simples espirro, que o nosso povo quando o ouve diz: “Jesus”, “Santinho”, “Deus te proteja”, “Saúde”, ou outra expressão a desejar que nada de mal nos aconteça porque era, e é, presságio de eventual doença. Aliás, várias culturas, desde a Antiguidade, deram sempre relevo e associaram-no a diversas causas relacionadas com a saúde de cada um.
De facto, não foram precisas bombas, nem guerras para pararmos todos ou, pelo menos, uma grande maioria, apenas por causa de um vírus que surge sabe-se lá do quê, ou talvez, do relacionamento de humanos com animais, da manipulação laboratorial, da poluição e alterações climáticas, ou de tudo isto conjugado; provavelmente nunca saberemos a sua origem, mas o que é um facto é que ele está aí, é inteligente porque sabe furtar-se aos variados ambientes com as diversas mutações que assume e, por isso, também sabe ser global, bem diferente do vírus da gripe comum, da gripe A, da das aves e de outras que, com maior ou menos dificuldade, foram debeladas.
Este é diferente! Espera para se revelar; entretanto, vai progredindo de indivíduo para indivíduo e, assim, silenciosamente vai alastrando de forma exponencial no tempo e no espaço.
A ciência, seguramente, que irá conseguir descobrir a forma eficaz de o combater, primeiro, com a cura dos infectados e, posteriormente, com a vacina.
Neste entretanto, da busca da cura e da contenção da propagação, o remédio que os governos encontraram foi o de “recolher obrigatório” (e, bem!), para evitar que a população não estivesse com uma generalizada e descontrolada doença que paralisaria tudo; contudo, não deixou de provocar idêntica imobilização, mas com uma grande diferença, as pessoas ainda não estão aparentemente com a doença contraída.

E depois disto? Quando se retomar a realidade, teremos o mesmo País, o mesmo Mundo? Em minha opinião, infelizmente neste País, não; e sou um optimista!

Vejamos então porquê; as Empresas param ou reduzem substancialmente as produções, os Serviços funcionam casuisticamente de forma remota, a Administração vai gerindo passo a passo, “navegando com terra à vista” e assim, a Economia vai afundar-se por força desta conjuntura, porque a eficiência vai ser fortemente prejudicada e as Empresas dificilmente sobrevirão aos constrangimentos, quer por causas naturais, quer por manifestos oportunismos.
Ficarão algumas empresas, as resistentes, as resilientes e aquelas que emergirão dos resultados e consequências da crise e, assim haverá algum trabalho e, por isso, serão necessários trabalhadores, mas nunca tantos quanto estavam a ser precisos nesta altura de aquecimento ou sobreaquecimento da economia.
O Turismo vai reduzir substancialmente e, com tudo isto, a mobilidade a diminuir, com os meios de transporte, as infra-estruturas de alojamento, a restauração, a animação e tantas e tantas outras coisas colaterais a reduzirem drasticamente.
Mas este País não vive só do turismo, mas sobrevive muito à custa dele, porque pouco produz, quer na agricultura quer na extracção de recursos naturais, pois também não é tão extenso e abastado nestas matérias, mas teve o cuidado de se desfazer de tudo o que poderia dar conforto económico à população, ou seja, entregando aos espanhóis, chineses, americanos, brasileiros, angolanos, franceses, árabes, turcos, mexicanos, colombianos, etc., os bancos, as companhias de seguro, a produção eléctrica, os cimentos, os hotéis, os aeroportos, as estradas, os portos, a água, o lixo (este em parte, porque o perigoso fica por cá!)  com a venda de empresas de referência que só dariam lucro, porque se não dessem não teriam compradores!
Mas resta aos Portugueses ter de suportar, inexoravelmente, os custos com a habitação, a água, a luz, o telefone, a internet, a televisão, a rádio, a educação dos filhos, a saúde e tantas outras despesas, pagando àqueles que “por compaixão” vieram salvar-nos da “banca rota” levando muito das nossas coisas.
Resta-nos, também, pagar os impostos, o IRC, IRS, IMI, IUC e outros (muitos) indirectos para continuarmos felizes porque estamos cheios de “direitos, liberdades e garantias”!
Depois disto, julgo que pouco ou nada será igual ao passado e, se o for, continuaremos doentes!
 

A pedido do autor este artigo está escrito com o antigo acordo ortográfico

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