No passado dia 22 de março, o Altice Forum Braga recebeu a conferência “Estratégia do Prado ao Prato”, inserida na 56.ª edição da AGRO onde a OERN marcou presença com um stand
Integrada na 56ª feira agrícola de Braga, a Conferência “do prado ao prato, análise do uso de pesticidas” reuniu no dia 22 de março de 2024 mais de 100 pessoas para debater o tema.
Organizada pela Ordem dos Engenheiros através dos colégios regional (norte) e nacional de Engenharia Agronómica e delegação distrital de Braga, a estratégia “do prado ao prato” definida pela Comissão Europeia veio alterar e acrescentar legislação relativamente aos modos de produção agrícola e define metas concretas como a redução em 50% do uso de pesticidas agricolas até 2030 entre outras. Esta questão foi analisada pelos palestrantes convidados que partilharam as suas visões e preocupações.
A Conferência foi aberta por Bento Aires, Presidente da Ordem dos Engenheiros Norte, que, mesmo não podendo estar presente por sobreposição de agenda, em comunicação virtual enquadrou o evento e procedeu à abertura dos trabalhos.
Tendo sido dada a palavra ao Dr. José Diegas, Secretário Intermunicipal da CIM do Alto Tâmega e Barroso este apresentou esta Comunidade Intermunicipal e mostrou um pequeno filme promocional revelador da beleza de um território que sendo único deve ser preservado e valorizado.
Ainda na sessão de abertura o Engº. Altino Bessa, vereador da Camara Municipal de Braga, deu as boas vindas a todos e apresentou algumas das iniciativas que a CMB tem implementado desde a promoção dos circuitos curtos como a disponibilização de um espaço para venda de cabazes de produtos hortícolas diretamente do produtor ao consumidor, a redução do uso de pesticidas em espaços públicos, e outras iniciativas como a quinta pedagógica e as hortas sociais e urbanas.
O Eng.º Adelino Bernardo, Coordenador do Conselho Regional do Colégio de Engenharia Agronómica, tomou a palavra, convidou os palestrantes a tomarem os seus lugares e informou que, por questões práticas a ordem das apresentações seria diferente da apresentada no programa.
A primeira palestra apresentada pela Engª Marta Barradas, com formação em Engenharia Zootécnica pelo Instituto Superior de Agronomia, expôs a missão e desafios do Clube de Produtores do Continente. Através de um pequeno filme deu a conhecer a abrangência da atividade no campo, no mar e na indústria. O Clube tem cerca de 340 produtores que representam cerca de 11mil postos de trabalho e 200mil ha num total de mais de 240ton de alimentos correspondentes a 570milhoes de euros. Com 25 anos surgiu de uma necessidade em organizar a produção, mas os desafios de hoje são outros. Assim em 2021 foi proposta a declaração para a sustentabilidade que, em conjunto com os agricultores, procura atingir as metas propostas pela Comissão Europeia para o setor agro-alimentar. A Engª Marta destacou alguns dos projetos e referenciais como Produção Resíduo Zero, Agricultura Regenerativa, Programa Agroecologia, Projeto águia caçadeira nas searas do Alentejo e Feira do Desperdício.
O segundo palestrante, Engº Rui Lagoa, Mestre em Engenharia Agrícola pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, explicou-nos o que é uma Bio-região e deu-nos a conhecer a bio-região Comunidade Intermunicipal do Alto Tâmega e Barroso. Falou-nos da questão do carbono e da sua preservação no solo e mostrou-nos como as preocupações ambientais e de desenvolvimento do território podem levar a iniciativas como a da criação de uma Bioregião. Neste território de baixa densidade populacional são diversos os produtos endógenos, desde as raças autóctones, ao mel, frutos secos, folar e fumeiro, sendo que 32 estão classificados como DOP ou IGP. O Engº deu-nos ainda a conhecer algumas das ações desenvolvidas neste âmbito como a aquisição de equipamento à promoção de produtos Bio do território.
A Engª Paula Garcia, licenciada em Engenharia Agronómica pelo Instituto Superior de Agronomia, subdiretora da Direção Geral de Alimentação e Veterinária e representante nacional em organizações internacionais em matérias de fitossanidade e proteção das culturas, certificação de sementes e variedades vegetais, lembrou-nos que o pacto ecológico europeu apresentado pela Comissão Europeia em dezembro de 2019 tem como grande objetivo desenhar uma nova estratégia de crescimento sustentável para a União Europeia. Nesta insere-se a estratégia do prado ao prato que visa reduzir a dependência de pesticidas, reduzir o excesso de fertilização, aumentar a agricultura biológica, melhorar o bem-estar animal e inverter a perda da biodiversidade. A Engª Paula realçou ainda que a procura de elevar o autoaprovisionamento alimentar da EU, a par com a ambição de tornar a Europa no primeiro continente com um impacto neutro no clima, é um desígnio que deve ter em consideração os grandes desafios atuais da nossa agricultura e que temos que atender: nomeadamente o controlo de pragas e doenças; fomentar o uso de fertilizantes orgânicos; inovar no melhoramento de plantas; apostar na formação e no aconselhamento agrícola; evoluir na digitalização da agricultura e alinhar a investigação com as necessidades práticas dos nossos agricultores. Explicou-nos que a proposta de redução no uso de pesticidas considera como anos de referência o período 2015 a 2017 e como indicadores a quantidade de substâncias ativas e a quantidade de substâncias ativas de risco (candidatas a saírem das listas dos produtos autorizados). A Engª Paula deu-nos ainda a saber que a proposta de regulamentação do uso sustentável de produtos fitofarmacêuticos, em linha com esta estratégia, foi recentemente retirada pelo que neste momento ainda não existem os necessários mecanismos legais para a sua implementação.
Seguiu-se a palestra da Eng.ª Sofia Rocha, licenciada em Engenharia Agrícola pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, membro efetivo da Ordem dos Engenheiros e Responsável pelo departamento técnico da PAM OP. Esta empresa de produção e comercialização de hortícolas com sede na Póvoa de Varzim, tem vindo a fomentar a adoção de práticas agrícolas cada vez mais sustentáveis tendo sempre como prioridade a segurança alimentar. A Engª Sofia revelou-nos que os maiores desafios hoje são as alterações climáticas, o aparecimento de novas pragas e doenças, a redução de substâncias ativas disponíveis, a escassez de mão de obra e a capacitação técnica. E acrescentou que a grande dificuldade hoje é conseguir conjugar por um lado todos estes desafios com a atividade económica que naturalmente tem que ser rentável. Referiu ainda do interesse em haver oferta formativa que permita uma permanente atualização daqueles que dão apoio técnico nas empresas e realçou que essa é, também, uma missão da Ordem dos Engenheiros.
Por último tivemos oportunidade de ouvir a Engª Joana Neto, licenciada em Biologia e Mestre em Ecologia e em Engenharia Agronómica pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, atualmente investigadora nos Centros de Investigação LEAF e GreenUPorto. A Engª Joana apresentou-nos uma nova abordagem no controlo à praga Phthorimaea absoluta (ainda recentemente denominada, pela comunidade científica, Tuta absoluta) que está a causar elevados prejuízos nas produções de tomate em todo o mundo. Falou-nos de como usar a natureza a nosso favor, promovendo a presença de inimigos naturais capazes de controlar a praga, em plantas próximas da cultura naquilo a que chamou infraestruturas ecológicas que importa manter e promover. Mostrou-nos resultados da investigação e imagens de insetos predadores e parasitoides que se alimentam desta e doutras pragas das culturas agrícolas. Numa comunicação sobre a proteção biológica de conservação como estratégia para o controlo das populações de traça do tomateiro, a Engª Joana mostrou-nos resultados dos trabalhos de investigação em que constata que a solução para esta importante praga poderá estar do lado de fora da estufa.
Seguiu-se um tempo de perguntas alargado a todo o público tendo sido uma oportunidade para a oradora Eng Paula, em resposta a uma questão, dar a conhecer, resumidamente, o complexo e rigoroso procedimento conducente à homologação de um produto fitorfarmaceutico na União Europeia.
Tendo sido lidas estas conclusões foi feito um agradecimento aos oradores que se disponibilizaram para aqui partilhar as suas interpretações e experiência na implementação das novas regulamentações da UE, e um agradecimento à assistência pela participação e por ter contribuído para que a implementação desta diretiva europeia seja mais justa e adequada à atividade económica que é a agricultura do norte de portugal.
A conferência foi encerrada pelo Engº Leonel Cunha e Silva, delegado distrital de Braga da Ordem dos Engenheiros.