[Com vídeo] André Fonseca Ferreira “Os engenheiros são sempre os que geram as melhores ideias”

A penúltima conferência do primeiro ciclo do “Há Engenharia fora da caixa” trouxe André Fonseca Ferreira para um momento disruptivo com engenheiros.

 
Poças Martins, presidente da OERN abriu uma vez mais a conferência assinalando que neste contexto em que atualmente estamos não sabemos o futuro mas os “engenheiros estão habituados à mudança. Na vida quem sobrevive são aqueles que se conseguem adaptar à mudança, a única certeza que temos é que encontraremos todos uma solução para o que está para vir e, certamente, que a Engenharia fará parte dessa solução. “
Coube a Pedro Vieira e Moreira, membro do concelho diretivo da OERN, conduzir e moderar esta conferência lembrando que o convidado desta Conferência tem “um tema que para além de estar na ordem do dia é um tema cada vez mais importante para os engenheiros. Às vezes falar de inovação e de disrupção não cabe no dia-a-dia das organizações nem dos técnicos que as gerem.

 

“Às vezes falar de inovação e de disrupção não cabe no

 dia-a-dia das organizações nem dos técnicos que as gerem. “

 
“O André é um empresário, um empreendedor e também professor e é de facto é uma personalidade do nosso país que se adequa para desmistificar os fenómenos de disrupção e implementação de medidas inovadoras nas empresas. É um otimista e, portanto, de vez em quando é bom ouvir otimistas a falar sobre as incertezas e aquilo que nos deixa um bocadinho mais ansiosos nestes tempos conturbados.” Concluiu.


 

O que André Fonseca Ferreira disse…

 
É bom estar aqui convosco e partilhar um bocadinho deste meu otimista “desinformado”.
Aquilo que eu venho tentar partilhar convosco é tentar desmistificar um bocadinho o conceito de disrupção e de que maneira é que ela tem sido acelerada ao longo do tempo por fenómenos disruptivos que vão claramente acelerar processos de mudança. E, já agora fazer aqui um pequeno tour otimista sobre o futuro e, com este tour, discutirmos um bocadinho não só porque este mundo entrava numa enorme aceleração disruptiva até à recente ameaça estrutural que foi o coronavírus, mas também como é que a partir do coronavírus se intensificaram ainda mais as oportunidades associadas a estas grandes descontinuidades.
Eu tenho uma relação amor-ódio com os engenheiros porque nos últimos 15 anos de centenas de workshops em que estive a gerar ideias a verdade é que os engenheiros são sempre os que gerem as melhores, mas sempre os que lutam mais contra elas. Provavelmente devido aos seus defeitos/feitios de formação que faz com que estejam constantemente a questionar, a pôr em causa, a estar constantemente a querer avançar as coisas numa determinada regra.

 “Os engenheiros são sempre os que geram as melhores ideias,

mas sempre os que lutam mais contra elas.” 

E começava por partilhar convosco as seis grandes descontinuidades que acabam por ser aceleradas nos últimos tempos e de que maneira é que estas seis descontinuidades têm um grande impacto na maneira como olhamos as civilizações, as organizações, clientes, fornecedores. Pensamento divergente – adotar novas lentes, Do cliente pronto para o cliente primeiro (antecipar as necessidades do cliente); Do consumidor ao produtor – o efeito de clientes profissionais; Migrar sobre uma perspetiva de ativos de conhecimento para fluxos de conhecimento; Do pensamento linear para o exponencial; Profissionais movidos mais por impacto do que por compromisso.
 

Reveja a intervenção completa aqui

 

Os Engenheiros são disruptivos por natureza?

Eu acho que os engenheiros quando conseguem, de facto, relacionar-se com os antropólogos, os sociólogos, os psicólogos, os designers, conseguem ser mais disruptivos do que muitas outras ordens profissionais. Mas, quando querem aprender áreas de conhecimento divergentes das deles e aceitam a diferença, tornam-se, por natureza, bastante disruptivos. Há três tipos de classes profissionais muito difíceis de encarar workshops de inovação, os jornalistas, os médicos e os engenheiros.

“Eu acho que os engenheiros quando conseguem, de facto,

relacionar-se com os antropólogos, os sociólogos, os psicólogos, os designers,

conseguem ser mais disruptivos do que muitas outras ordens profissionais”

Os médicos e os engenheiros, olhando para a dimensão filosófica das suas funções, têm uma natureza muito protocolar e material da maneira como constroem o seu legado intelectual, e isto cria barreiras, porque quanto mais protocolado isto acontece, mais resistente eu sou e menos flexível sou a compreender as vulnerabilidades, como nas relações humanas ou organizacionais, que são as que transformam os processos autênticos e, por sua vez, nos permitem crescer. Dito isto, acho que há aqui uma enorme oportunidade para que os engenheiros, sendo eles, por natureza, os melhores orquestradores de sistemas e de processos, serem também aqui um hub de orquestração de todas estas novas dimensões de trabalho dos fluxos de conhecimento. E eu penso mesmo, e acredito, que os engenheiros, de facto, conseguindo perceber este papel de orquestração conseguem fazê-lo muito melhor do que, por exemplo, os consultores e os economistas.
 

A Covid convoca os engenheiros a serem mais disruptivos?

Eu acho que convoca a sociedade inteira a ser mais disruptiva. Agora, há uma coisa que é verdade, os engenheiros são, por natureza, muito hábeis a construir coisas e a fazer coisas e a darem-se a uma dimensão material. Se a Covid é um fenómeno de destruição, nós precisamos de quem dê respostas de construção, e eu acredito que os engenheiros empoderados pelas ferramentas certas conseguem ser motores de inovação e de construção. E não só pela Covid, mas por tudo o que são as chamadas os potenciais blacksones que temos pela frente.
 

O confinamento, Engenharia portuguesa, mercado digital no mundo

O papel da Engenharia é ser orquestradora da criação destes fluxos de conhecimento, dos ecossistemas de conhecimento, de inovação, dos ecossistemas de fluxos de negócios, eu não tenho dúvidas que se o fizer de forma organizada e movida por um propósito de transformação que toda a comunidade da engenharia compreende, ela pode-te dar uma enorme vantagem competitiva da engenharia portuguesa para o mundo. Não só por tudo o que falaste, mas podemos mostrar ao mundo que somos affordable talent, com a solidez do conhecimento gerado nas sociedades da Engenharia, com a solidez das experiências de algumas das nossas empresas na área da engenharia que, de facto, dão muitas capas do ponto de vista internacional, conseguirmos escalar para este país exponencial, onde a engenharia e o conhecimento aplicado, têm, desde que organizado sobre esta dinâmica de plataforma, conseguir tornar Portugal mais competitivo e por sua vez, abraçado pela engenharia portuguesa. Os engenheiros devem incorporar esta dinâmica do pensamento divergente.
 

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Edição e texto: Catarina Soutinho | Transcrição: Sofia Vieira e Inês Miranda | Design Gráfico: Melissa Costa

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