Manuel Moras, administrador da empresa Águas do Norte, é o primeiro convidado das Entrevistas Temáticas organizadas pela Delegação Distrital de Vila Real.
De que forma os municípios e as empresas concessionárias de tratamento e abastecimento de água da região estão a reagir à pandemia Covid-19. Esta é a premissa basilar para o ciclo especial de entrevistas temáticas que a Delegação Distrital de Vila Real em parceria com o seu dinamizador temático na área de Engenharia Sanitária, Hugo Afonso, está a promover e que serão partilhadas periodicamente pela Ordem dos Engenheiros – Região Norte (OERN).
De que forma o sector da água tem procurado dar resposta ao atual cenário pandémico, em cumprimento da sua Missão? Tem conseguido conciliar com as novas orientações legais que regulamentam os diversos estados de emergência e no imperativo de combater a propagação do surto da doença COVID-19 junto das populações?
A primeira entrevista temática é a Manuel Moras, engenheiro, e administrador da empresa Águas do Norte, S.A.
Como tem sido gerir os sistemas de abastecimento de água e de águas residuais, com a redução da presença física de muitos colaboradores, quer em isolamento quer à distância, em teletrabalho, garantindo a qualidade e regularidade do serviço?
A situação imposta pela Covid-19 trouxe às organizações e em especial às empresas do sector da água novos desafios e novas formas de garantir a continuidade e regularidade do serviço.
Obviamente que não pode estar em causa a interrupção de um serviço publico essencial e imprescindível à vida pelo que os serviços tiveram que se reorganizar adotando novas formas de trabalho, recorrendo a novas tecnologias ou acelerando a digitalização que estando em curso teve que ser rapidamente implementada.
À exceção dos serviços que não é possível executar remotamente, todos os restantes passaram a ser executados por recurso ao teletrabalho. Não foi muito difícil porque a Empresa já estava dotada de uma boa infraestrutura tecnológica que lhe permitiu passar ao teletrabalho sem grande esforço. De facto já há muito tempo que os técnicos da Empresa estão munidos de computadores portáteis, temos uma boa rede de comunicações e todas as instalações estão ligadas em rede permitindo o acesso remoto. Para isso tem sido fundamental a dedicação e empenho dos técnicos de informática, das tecnologias de comunicação e a estratégia que esta Empresa inserida no grupo Águas de Portugal tem, há muito tempo, vindo a optar pela informatização e telegestão das suas instalações.
Obviamente que há trabalho que não pode ser executado de forma remota, como a operação e manutenção das instalações que requerem trabalho manual nas diversas instalações e equipamentos. Também neste campo tivemos que nos adaptar e manter equipas “em espelho” de modo a que se alguma viessem a testar positivo ao vírus, pudessem confinar e ser substituídas pelos colegas que se mantinham em isolamento. Têm sido tempos difíceis que têm obrigado a algumas alterações ao modo de trabalhar, tem provocado alguns constrangimentos principalmente na exploração, mas que de forma alguma puseram em causa a qualidade e regularidade do serviço que com grande dedicação e empenho dos nossos colaboradores a Empresa tem prestado.
“Relativamente aos consumos não se tem registado grande alteração uma vez que o ligeiro aumento de consumo doméstico devido ao teletrabalho é compensado com a redução do mesmo na atividade comercial e industrial.”
Como se conseguem operacionalizar as atividades maioritariamente de terreno/campo? Por exemplo, a reparação de avarias no serviço?
Como já disse tivemos que nos adaptar à situação de pandemia que nos envolve e reforçamos com medidas adequadas à situação, fornecendo equipamentos e materiais a todos os nossos colaboradores de modo a evitar que viessem a ser infetados.
Demos formação a todos os colaboradores, distribuímos máscaras e materiais de desinfeção e organizamos o trabalho de modo a, sempre que possível, manter o distanciamento. Exigimos as mesmas medidas aos nossos fornecedores e prestadores de serviço pois são também imprescindíveis para garantir o tratamento e fornecimento de água potável e a recolha e tratamento das águas residuais.
Qual tem sido a evolução dos consumos, roturas e perdas de água na fase de confinamento?
Relativamente aos consumos não se tem registado grande alteração uma vez que o ligeiro aumento de consumo doméstico devido ao teletrabalho é compensado com a redução do mesmo na atividade comercial e industrial.
Também não registamos grande alteração a perdas pois elas decorrem de roturas, consumos indevidos ou não faturados. Como temos conseguido garantir a reparação das roturas sem perda de eficácia temos conseguido manter o nível de perdas.
“Uma das nossas preocupações tem sido a de não acrescentar à crise sanitária uma crise económica e de trabalho sem precedentes na nossa história recente.“
Há investimentos em infraestruturas, equipamentos ou I&D que ficaram suspensos?
Não. Uma das nossas preocupações tem sido a de não acrescentar à crise sanitária uma crise económica e de trabalho sem precedentes na nossa história recente. Nesse sentido temos conseguido cumprir o plano de investimentos graças não apenas ao trabalho da nossa Engenharia, mas também ao esforço do sector da construção civil que mesmo nas épocas de maior confinamento não parou.
Como assegurar a sustentabilidade das Entidades Gestoras em tempo de crise económica motivada pela crise pandémica?
Tal como os restantes sectores, também as entidades gestoras dos serviços de água (potável e residual) têm que se adaptar às diversas situações e garantir a sua sustentabilidade sem pôr em causa a saúde pública e o ambiente que têm obrigação de preservar.
Estas entidades estão ainda obrigas a fornecer estes serviços a preços acessíveis e socialmente aceitáveis sob pena de não cumprirem a missão para que foram criadas.
Para isso têm que inovar constantemente adotando as melhores práticas. Não é por acaso que nestes tempos de confinamento uma das atividades que mais se tem desenvolvido tem sido a de I&D, reflexo que a Águas do Norte S.A. e o sector se tem vindo a adaptar aos diversos cenários da crise que os tem assolado.