Quase duas centenas de engenheiros participaram no 9º Encontro de Engenharia Civil do Norte de Portugal – Galiza, que decorreu no passado dia 24 de janeiro, na sede da Ordem dos Engenheiros – Região Norte (OERN). O futuro das infraestruturas do Norte de Portugal e da Galiza foram amplamente debatidos e a procura de soluções, diagnóstico e análise foram uma constante em todo o debate.
Joaquim Poças Martins, presidente da Ordem do Engenheiros – Região Norte lembrou, na sessão de abertura, que os desafios dos engenheiros são constantes, mas avisou que “as grandes decisões das infraestruturas são políticas” como é o exemplo do novo aeroporto do Montijo, um dos temas mais quentes deste encontro. Mas Poças Martins deixou claro que “os engenheiros de facto são parte da solução, mas têm de ser chamados atempadamente para colaborar na formatação da mesma.” Sobre este aspeto Bento Aires, coordenador do Colégio de Engenharia Civil – Norte lembrou também que “aspiramos ter uma rede de infrastrurutas que nos permita ser competitivos e conectáveis em rede, mas que necessita de um grande investimento. Este investimento tem de ser ponderado, e estudado, é essa a grande oportunidade da Engenharia, e por isso precisamos de ter líderes que ouçam os engenheiros.” Afirma Bento Aires.
Neste sentido Poças Martins anunciou que a OERN vai promover estudos que permitam que os políticos da região possam tomar melhores decisões “vamos promover estudos internos e sérios, vamos fazer comparações para ajudar a resolver aqueles problemas que a sociedade precisa. A associação engenheiros/político é uma dupla vencedora.” Afirma Poças Martins, acrescentando ainda que “os políticos ouvem-nos quando quiserem e, se necessário, ouvem-nos quando não quiserem.”
E por isso mesmo, lembra Bento Aires, que “os engenheiros não estão cá apenas para executar e manter as infraestruturas quando elas têm problemas, estão cá para perceber aspirações, para suportar planos estratégicos, para preparar estudos, debate. análise, preparar projetos, executar as obras, para os manter e readaptar.”
Os Encontros de Engenharia Civil Norte de Portugal-Galiza são uma organização conjunta do Colégio de Engenharia Civil da Ordem dos Engenheiros – Região Norte (OERN) e do Colégio de Enxeñeiros de Camiños, Canais e Portos de Galicia desde 2001. Nestes encontros são apresentados temas de interesse estratégico para o desenvolvimento de ambas as regiões, e isto mesmo lembrado, e enaltecido, por Enrique Urcola Fernandez, Decano do Colégio de Ingenierios de Camino, Canales y Puertos, Galicia (CICCP), durante a sua intervenção inicial, mais tarde retomada no painel sobre a ferrovia.
Aeroportos
O novo aeroporto do Montijo foi o tema mais controverso do dia, com Matias Ramos, ex Bastonário da Ordem do Engenheiros e Álvaro Costa, professor da FEUP a defenderem posições antagónicas que aguçaram o debate. Montijo sim? Montijo não? E o exemplo de Heathrow? Um painel moderado por Carlos Nárdiz Ortiz, professor da Universidade da Corunha.
Confira aqui as apresentações dos oradores:
Carlos Matias Ramos, ex-Bastonário da Ordem dos Engenheiros
Alicia Mouriz Guerrero, Senior Project Manager Expansion Programme no Aeroporto de Heathrow
Álvaro Costa, Professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP)
Rodovia
O painel conduzido por Eduardo Gomes, da Rohde Nielsen A/S, trouxe para debate a rodovia. O moderador na sua introdução ao tema lembrou no entanto que “a decisão de construir uma infraestrutura, como e quando a constróis e como a financias é uma decisão politica.” Lembrou também que “no caso de Portugal tivemos uma recente experiência de construir uma rede rodoviária bastante vasta, em algumas zonas claramente redundante e sobrevalorizada, mas é também verdade que fizemos, enquanto engenheiros, aquilo que estava previsto na lei.” afirmou. “As pessoas costumam dizer que não há planeamento, mas no caso do sector rodoviário há uma lei aprovada no parlamento por unanimidade, que é Plano Rodoviário Nacional, e parece que o trabalho dos engenheiros foi diabolizado! Ninguém parece querer discutir se as estradas foram caras ou baratas, ninguém quis discutir onde é que estava o “desvio” daquele devaneio, que, claramente, está na parcela financeira, mas são as “regras do jogo” que os políticos quiseram jogar. Hoje, não tenho dúvidas que os gestores das infraestrurutas têm um desafio pela frente. “ Concluiu Eduardo Gomes antes de passar a palavras aos convidados.
Confira aqui as apresentações dos oradores:
Francisco Menéndez Iglesias, Diretor Geral da Agência Galega de Infraestrutura (AXI)
Helder Correia, Country Manager – Portugal Road Freight da Rangel
Alfonso Orro Arcay, Codiretor do Mestrado de Logística e Transportes da Universidade da Corunha
Portos
O desafio que as infraestrurutas portuárias enfrentam hoje em dia foi também foi um dos temas em debate. Coube Ricardo Babío Arcay, chefe de Serviço de Projectos e Obras de Demarcação de Costas da Galiza – Miteco a condução do debate que trouxe várias questões para cima da mesa.
Confira aqui as apresentações dos oradores:
João Pedro Braga da Cruz, Engenheiro da Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL)
Lorena Solana, Chefe da Zona Centro no Portos de Galicia
Diogo Castro, Diretor-Geral YILPORT Ferrol
Ferrovia
As apresentações deste tema abordaram o investimento na ferrovia, os desafios da operação e os desafios da gestão. O debate conduzido por Pedro Mêda, membro da Ordem do Engenheiros centrou-se nas apresentações que trouxeram a debate os investimentos. Pedro Mêda lembrou “Espanha tem uma aposta no setor desde a década de 90, sobretudo na Alta Velocidade. Estes investimentos aproximaram os territórios de Madrid. Em Portugal o Ferrovia 2020 continua a somar atrasos na sua concretização. Contudo, só depois de ver os efeitos dos investimentos na linha do Minho é que será possível fazer uma avaliação efetiva das melhorias. Contudo, a linha do Minho não se vai transformar num canal de elevadas prestações pelo que a ligação Vigo – Porto pouco beneficiará em termos de tempo e velocidade. Os desafios do setor vão muito para lá da bitola, ou seja, da distância entre carris. É um facto que por causa da bitola o mercado de aluguer de comboios sejam máquinas, carruagens, automotoras ou vagões, é menor o que provoca constrangimentos. Também a necessidade de homologar os veículos. Mas mais do que a bitola há desafios na sinalização que não é uniforme, bem como na tensão da catenária (que alimenta os comboios elétricos) o que faz com que o material tenha que ser polivalente, ou seja tenha vários sistemas e funcione com várias tensões, o que resulta num sobrecusto na aquisição e manutenção do material bem como na formação dos maquinistas. A gestão das vias férreas coloca-se de forma diferente em linhas antigas, linhas modernizadas e linhas novas. Os fenómenos atmosféricos têm provado que a rede ferroviária é pouco resiliente. É necessária a intervenção da Engenharia para avaliar os riscos, antever potenciais falhas e criar mecanismos de resposta rápidos em função das mesmas de forma a assegurar o funcionamento da rede ferroviária. Neste contexto a existência de redundâncias é fundamental.
Confira aqui as apresentações dos oradores:
Ignacio Maestro Saavedra, Diretor Geral de Mobilidade
Álvaro Fonseca, Diretor Geral Takargo
Enrique Urcola Fernandez, Decano Colegio de Ingenieros de Caminos, Canales y Puertos, Galicia (CICCP)
Valor Social da Infraestruturas e a Mobilidade do Futuro
O Valor Social das Infraestruturas e a Mobilidade do futuro foram ainda temas em análise e debate nestes Encontro com Eduardo Vitor Rodrigues, Presidente da Área Metropolitana do Porto e Presidente da Câmara Municipal de Gaia, Uxío Benítez Fernández, Deputado de Mobilidades Alternativa e Espaços Públicos e Cooperação Transfronteiriça e AECT Rio Minho, Mário Fernandes, Diretor de Planeamento Estratégico da Infraestruturas de Portugal Carlos Magno, Jornalista e Helena Silva CTO do CEIIA como convidados.
O Encerramento ficou a cargo do Secretário de Estado das Infraestruturas Jorge Delgado e o Bastonário da Ordem dos Engenheiros (via streaming), Carlos Mineiro Aires.
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