Por Norberto Ribeiro, Especialista em Luminotecnia
“não é raro que as mais intensas contradições nos venham despertar dos nossos sonos nos conceitos e libertar-nos das nossas geometrias utilitárias.”
Gaston Bachelard
A oportunidade de uma nova abordagem
Na arquitectura e no planeamento da Cidade é doravante necessário que a iluminação se relacione mais estreitamente com a cultura e com a arte.
As mudanças sociais e económicas, abriram espaço a um outro tempo – ininterrupto – e um número crescente de pessoas desenvolvem ou prolongam a sua actividade – vivem e convivem – durante a noite.
Aos ciclos cadenciados da cidade tradicional contrapõem-se novos ritmos da vida urbana, mais intensos e diversificados, criam-se novas centralidades e circuitos de mobilidade, surgem, aqui e ali, formas de segregação sócio-territorial que importa atenuar.
A concepção de uma infraestrutura de iluminação massificada, meramente funcional, destinada primordialmente a dar resposta à demanda de uma maior segurança urbana, não vai resultar no futuro mais próximo.
Por outro lado, quanto mais a globalização avança, mais as pessoas tenderão a ir à procura da sua herança cultural, de algo que efectivamente as diferencie. É uma reacção definitiva em todas as áreas.
A iluminação nas cidades, deve então constituir-se componente essencial do Projecto Urbano. Ser factor de valorização estética e plástica. Contribuir para enformar uma nova relação com os cidadãos. Acompanhar o desenvolvimento da actividade económica e turística, promovendo uma imagem e uma identidade.
Exige-se então, em cada caso, uma resposta integrada, uma reflexão global e coerente, assente no pressuposto de que a iluminação é também medida do grau de “hospitalidade” e de cultura na Cidade moderna.
Um projecto global para a iluminação do espaço urbano
As implicações técnicas, económicas, estéticas e ambientais presentes no Projecto de Iluminação Urbana, impõem hoje, claramente, uma abordagem multidisciplinar e integrada.
É necessário, a um tempo, levar em linha de conta o desenvolvimento de novos conceitos e tecnologias de iluminação – com destaque para a nova tecnologia LED – e a evolução de uma sociedade cuja sensibilidade integra hoje, com total espontaneidade, a imagem, o movimento, a cor.
Novos efeitos e temporalidades, um vasto campo de possibilidades a explorar com curiosidade, mas igualmente com a necessária prudência e sentido do equilíbrio.
Paralelamente, a valorização do património histórico e arquitectónico, a preservação do mobiliário urbano mais característico, a criação de ambientes nocturnos atractivos e diferenciados, o uso da luz nas suas potencialidades cénicas, revelam-se essenciais ao desenvolvimento da cidade e à projecção da sua imagem, interna e externa.
A integração, finalmente, dos objectivos do desenvolvimento sustentado, o controlo da Poluição Luminosa, a procura da maior Eficiência Energética, as preocupações com o desenvolvimento anárquico de algumas realizações, na ausência de uma estratégia coerente, devem constituir-se em objectivo primordial.
Donde, a importância dos Planos de Iluminação, enquanto instrumento de articulação das diferentes vertentes em confronto, tão essenciais à construção de uma maior harmonia na implantação da luz urbana, como à racionalização dos investimentos envolvidos e gestão mais eficiente dos recursos energéticos.
Revelar uma cidade outra, ligar as ruas e os homens, contribuir para a criação de pontos de referência e de lazer, servir a segurança preservando a identidade própria de cada lugar, com as suas exigências de funcionamento e de usufruto, eis alguns dos propósitos que uma iluminação pensada e planificada pode servir.
Redesenhar as instalações actuais, integrando no respectivo Layout as diferentes necessidades multifuncionais hoje presentes no Espaço Público Urbano (Informação, Segurança, Comunicação, Entretenimento e Mobilidade), monitorizando e gerindo a sua necessidade, deverá também ser um objectivo complementar do Projecto de Requalificação e da sua componente de Inovação.