Conferência sobre “Xylella Fastidiosa” e stand da OERN marcam a Feira Internacional de Agricultura, Pecuária e Alimentação

Houve mais de 100 participantes na conferência e centenas de visitantes passaram pelo stand da OERN inserido na Feira Internacional de Agricultura, Pecuária e Alimentação.

A conferência “Xylella Fastidiosa – Contexto Atual e Desafios Para o Setor Agroflorestal” decorreu no passado dia 31 de março, enquadrada 55ª Agro – Feira Internacional de Agricultura, Pecuária e Alimentação que se realizou entre os dias 30 de março e 2 de abril no Altice Fórum Braga.

Na sessão de abertura, Bento Aires, presidente do Conselho Diretivo da OERN, reforçou o papel da OE na defesa da sociedade e dos seus direitos e na promoção do conhecimento e debate dentro dos setores da Engenharia Agronómica, Florestal e Ambiente. 

Já na Susana Pombo, Diretora Geral da Alimentação e Veterinária congratulou a organização pela escolha do tema da conferência, numa das maiores feiras agrícolas nacionais. Realçou ainda que “a abertura de mercados internacionais torna Portugal mais vulnerável à entrada de novas pragas e doenças, sendo papel da DGAV criar mecanismos de prevenção da entrada desses inimigos das culturas e da mitigação das já existentes. Informa que Portugal tem mais de 90 programas de prospeção fitossanitária nacional.”

Ainda na sessão de abertura Altino Bessa lembrou “trabalho da Câmara Municipal de Braga no contributo que tem tido no combate a outras pragas e doenças instaladas na região (p.e. vespa velutina ou vespa da galha dos castanheiros”

Adelino Bernardo, Coordenador do Conselho Regional do Colégio de Engenharia Agronómica da Região Norte lembrou durante a sua intervenção que esta conferência foi uma “sessão de trabalho clara, esclarecedora e participada”. O coordenador apontou que “ninguém fica feliz pela destruição de árvores e plantas, mas que os serviços oficiais do Ministério da Agricultura cumprem normas europeias e os seus serviços não podem deixar de as aplicar.” Não deixou ainda de elogiar o trabalho feito pelos dirigentes com responsabilidades nesta área e sobretudo os funcionários pelo “extraordinário trabalho, árduo e difícil de terem que aplicar as medidas legais, dando a cara e assistindo a todo o tipo de reações e muitas vezes dramas humanos com repercussões pessoais e familiares.” Deixou claro que a região e o País já há vários anos estavam a trabalhar para estarem prevenidos para o problema, tendo recorrido e elencado cronologicamente desde outubro de 2013 até julho de 2019 informação sustentada em troca de emails, com orientações e ações que demonstram o que foi feito pela DRAP Norte, DGAV, ICNF, Câmaras Municipais, Operadores Económicos, entre outros.

Adelino Bernardo lembrou ainda que, enquanto Colégio de Engenharia Agronómica – Norte “Defendemos que aos Engenheiros Agrónomos, pelo papel relevante que lhes cabe na sociedade, não se pede apenas que sejam sabedores e tecnicamente competentes no exercício da sua profissão, mas ainda, que tenham qualidades de caráter, de seriedade e de probidade, que transmitam confiança aos cidadãos e às empresas, até pela atividade que desenvolvem no sector agroalimentar.”

A conferência encerrou com a intervenção de Leonel Cunha e Silva, Delegado Distrital de Braga que realçou a “importância que a AGRO representa para a Engenharia Agronómica e Florestal e onde a participação da Delegação Distrital de Braga tem sido uma constante, constituindo um marco importante no seu plano de atividades, sendo reforçada este ano com a presença de um Stand próprio da OERN”. Lembrou também que o” tema em discussão é representativo dos desafios que se colocam perante uma economia cada vez mais global e onde as alterações climáticas constituem um desafio acrescido, a Engenharia será essencial na procura das soluções necessárias ao combate às pragas e novas doenças cada vez mais recorrentes e de disseminação mais intensa”.

O que foi dito

Raul Rodrigues, prof. Adjunto – CISAS/IPVC – Escola Superior Agrária – moderador focou-se na globalização das pragas e doenças de difícil erradicação e que é importante saber como conviver com elas , descobrir formas de ultrapassar os desafios, ao invés de se acreditar na sua total eliminação.

Fernando Tavares, Prof. Associado, CIBIO & Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, tem-se debruçado nos últimos anos no estudo da sequência genômica de microorganismos, nomeadamente bactérias e Xilella fastidiosa em particular. A Xilella foi a primeira bactéria fitopatogénica a ter o genoma sequenciado e a ser publicada na revista de renome Nature. Tem elevada capacidade de adaptação sendo que atualmente se reconhecem mais de 664 espécies vegetais hospedeiras e é transmitida por insetos hymenopteros. A Xilella foi identificada pela primeira vez em 1982 numa vinha na costa sul da Califórnia e identificada posteriormente em outros estados da América do Norte e Brasil. Na Europa foi reconhecida a sua presença em 2013, na região da Apúlia (Itália), dizimando muitos olivais. Atualmente está reconhecidamente presente em Itália, França, Espanha e Portugal, mas dados genómicos atuais informam que, apesar de não ter sido detetada antes, a sua presença em França pode remeter já aos anos 1970 – 1980. Ressalva a importância de se caracterizar bem os diferentes genótipos existentes para entender quais sãos os genes que conferem mais virulência em relação a outros.

Ana Aguiar, Prof.ª Auxiliar GreenUPorto & Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Lembrou que a Xylella fastidiosa vive nos vasos do xilema que são muito lenhificados e que se encontram na zona interior dos troncos/caules, sendo que o vetor da bactéria são insetos fitófagos endosugadores com um estilete comprido que se alimentam do xilema. São eles a cigarrinha, cigarras e espumas – Nome científico: Philaenus espumaris L. (1758). Têm uma geração por ano, sendo que no verão se encontram as formas adultas. Os ovos no inverno são protegidos por espuma e depois eclodem na Primavera. A ninfa vai criando espuma e passa por 5 instares, mudando de exoesqueleto em cada instar. A ninfa não é problema, mas sim os adultos. No entanto, é mais de observar a presença deste potencial vetor de Xilella por causa da espuma (sendo conhecido no Minho como “cuspo de cuco”) que se observa em urtigas, pastagens e diversos espaços verdes herbáceos, incluindo urbano. É um inseto muito frequenter na região EDM por ter um clima mais húmido, mas tem os seus predadores (aves, sapos, etc) que contribuem para o seu controlo natural. Assim, reforça a importância de preservar refúgios ecológicos nas explorações agrícolas pois lá encontram-se estes auxiliares das culturas, que controlam os insetos vetores da Xilella.

Paula Garcia, engenheira, Direção Geral de Agricultura e Veterinária (DGAV),  apontou que a Xyllela fastidiosa é considerada uma doença de quarentena porque não há cura atualmente, sendo que a nível comunitário existem mais de 300 pragas de quarentena e 20 prioritárias. As medidas fitossanitárias são baseadas em análise de risco e os estudos económicos compilados e publicados pela EFSA sobre o impacto dessa praga/doença. A Xyllela fastidiosa leva a perda de 5,5 biliões de euros de perdas de produção. Em Portugal já estão identificadas 18 zonas demarcadas: 7 na região Norte, 8 no Centro e 3 em Lisboa e Vale do Tejo. As culturas agrícolas e florestais mais sensíveis são: oliveira, amendoeira, citrinos, videira, castanheiro, sobreiro, framboesa e pessegueiro.

Sandra Sarmento, arquiteta, Instituto de Conservação da Natureza e Florestas ressalvou que o trabalho do ICNF na inspeção fitossanitária pela equipa de vigilantes na natureza que identificam a presença da bactérias em espécimes diversas. O ICNF e sapadores florestais procedem ao abate dessas plantas hospedeiras para controlo da dispersão da doença.

José Soares da Silva, Departamento Municipal de Espaços verdes e Gestão de Infraestruturas – Câmara Municipal do Porto, em relação ao Município do Porto, indicou que atualmente só uma área de 83 ha (correspondente ao Parque da Cidade) é que não fazem parte da zona demarcada da área metropolitana do Porto. No total das 65895 árvores existentes, 17595 estão dentro das espécies listadas pela DGAV como hospedeiras da bactéria, sendo preocupante se for detetada a doença pois iria obrigar ao corte de 27% das árvores do município. Portanto é importante encontrar estratégias, inclusive, de proteção de património cultural e social, que permitam a permanência destas espécies no Município.

Francisco Pavão, engenheiro, APPITAD (Associação dos Produtores em Proteção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro e Presidente da CVRTM (Comissão Vitivinícola da Região de Trás-os-Montes, em representação da agricultura de Trás os Montes, trouxe a preocupação dos olivicultores da região para a sala pois atualmente, Mirandela tem duas zonas identificadas com a presença de Xilella fastidiosa. Foi muito complicada a gestão das colheitas de azeitona desta campanha sendo preciso clarificar por quanto tempo é que se vai manter a zona tampão. Informou que os agricultores têm relutância em proceder ao abate das árvores infetadas e de todas ao redor delas a 50 metros pois não são compensados economicamente por isso. Também diz que não é possível que toda a região plante uma variedade de oliveira Lecciana que está reconhecida como sendo resistente aos efeitos devastadores da bactéria. Apela a que a DGAV invista na informação quer aos agricultores quer à população em geral, nomeadamente com avisos nos aeroportos e outros pontos de entradas de pessoas no país, que podem trazer inadvertidamente a bactéria para o nosso país.

Já durante o debate foi evidente a preocupação por parte dos agricultores e viveiristas por não conseguirem ser competitivos com Espanha e pelos apoios concedidos pelo estado aos viveiros serem muito pequenos e com muitas limitações no seu acesso. Existe tristeza e revolta pela única solução que os órgãos legislativos têm, sejam o de abate às árvores sendo que existem outras alternativas que devem ser privilegiadas, nomeadamente, a preservação de refúgios ecológicos. Também se falou das inúmeras investigações científicas nacionais e internacionais que existem a decorrer sobre a Xilella fastidiosa mas que ocorrem de forma paralela e não complementar, isto é, deve a academia científica estar em maior comunicação para benefício de todos.

A conferência, que decorreu no grande auditório da Altice Fórum Braga e foi organizada pelo Colégio de Engenharia Agronómica – Norte e pela Delegação Distrital de Braga.

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